O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook) - 2012. Escrito e dirigido por David O. Russell, baseado no romance de Matthew Quick. Trilha sonora original composta por Danny Elfman. Direção de Fotografia de Masanobu Takayanagi. Produzido por Bruce Cohen, Donna Gigliotti e Jonathan Gordon. The Weinstein Company e Mirage Enterprises / USA.
Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) foi internado em uma instituição para tratamento psiquiátrico após ter perdido o controle diante de uma situação traumática que arruinou seu casamento. Depois de cumprido o prazo de internação, que foi determinado legalmente, ele deixou a clínica e voltou para a conturbada casa de seus pais. Sua alta fora concedida por causa de um pedido de Dolores (Jacki Weaver), sua mãe, que acreditava que ele já estava em condições de se reerguer psicologicamente e de recomeçar sua vida. Pat, que recebera o diagnóstico de transtorno bipolar, não dá importância para o tratamento; ele se recusa a tomar a medicação que lhe fora prescrita e age como se estivesse negando a existência de seu distúrbio emocional, seu único objetivo é conseguir se reaproximar de sua esposa, a quem ele ainda ama, ele tem esperança de acertar tudo com ela e assim salvar seu casamento, no entanto, esta é uma ambição um tanto difícil de ser realizada, uma vez que uma ordem judicial de restrição o obriga, por questão de segurança, a se manter distante dela, podendo ele ser novamente internado ou até preso em caso de desobediência.
A casa de Pat definitivamente não é o melhor lugar para ele se recuperar, sua mãe é recessiva e aceita todas as mazelas de sua vida com relativa submissão e seu pai (interpretado pelo Robert De Niro), com quem ele não tem um relacionamento tão bom, está viciado em apostas, o que tem colocado a segurança financeira da família em risco... Num primeiro momento, a trama se desenvolve sem tantos atrativos, a atuação de Cooper, que muitos têm elogiado, me pareceu forçada, o que fez com que o drama vivido por ele e sua doença não fossem críveis o suficiente para eu me envolver com a história. A impressão que tive em diversas passagens foi a de que ele (o personagem) estava apenas fingindo, o que vejo como o resultado negativo do desempenho do ator, que infelizmente não conseguiu me convencer. Tudo no filme parece melhorar quando uma outra personagem entra em cena, ela é Tiffany (Jennifer Lawrence), uma jovem que também tentava se reerguer de um trauma recente; diferente de Pat, ela não chegou a ser internada, mas sua vida estava em ruínas assim como a dele.
O curioso é que até o desempenho de Bradley Cooper melhora nas cenas que ele protagoniza junto com a Lawrence, o que não é para menos, a atuação dela é de longe o melhor aspecto do filme, o que é ajudado em parte pelo fato dela interpretar a personagem mais interessante do longa e principalmente pela intensidade com que ela se entrega a ele mesmo nas passagens mais triviais. Ao contrário de Cooper, ela consegue dar credibilidade à sua personagem, mesmo ela sendo dotada de uma forte veia cômica, que fica evidente no exagero de algumas situações vividas por ela na trama... A partir de determinado estágio de seu desenvolvimento o filme parece ganhar vida, curiosamente isso acontece depois que o Bradley Cooper desiste de nos convencer que o transtorno bipolar se resume a ataques estéricos por motivos fúteis. Sem tanta forçação de barra, o roteiro passa a fluir de uma forma bem melhor, dando um espaço, ainda que pequeno, para que possamos conhecer os personagens além dos estereótipos que eles acumulam nos primeiros atos, o que sem dúvidas é algo bom, mas que não chega a salvar o filme como um todo de suas próprias limitações.
Sei que provavelmente irei causar polêmica ao afirmar isso, mas, sinceramente não consegui ver em O Lado Bom da Vida (2012) absolutamente nada que justifique as diversas indicações que ele recebeu nesta temporada. As nomeações aos prêmios de interpretação, por exemplo, foram exageradas, culminando no absurdo de ter um ator indicado em cada uma das quatro categorias de atuação do Oscar... A interpretação do Robert De Niro é a sua melhor em anos, porém seu desempenho não é tão formidável a ponto de ser destacado de tantos outros que mereciam concorrer ao prêmio da Academia muito mais do que ele. A indicação da Jacki Weaver é, no entanto, a mais absurda de todas, afinal a personagem dela sequer tem uma expressão tão significativa na trama... Dentre diversos aspectos medianos, o que se destaca é a trilha sonora (que conta com nomes como Stevie Wonder, Led Zeppelin, The White Stripes e Bob Dylan) e a montagem, que ajudam a tornar o filme leve e, sendo assim, um bom entretenimento (e tão somente isso).
Reconheço que O Lado Bom da Vida é um filme bom, gostoso de assistir e cativante (principalmente em seus últimos atos), no entanto, isso por si só não faz dele uma obra digna de ser lembrada como uma das melhores do ano. David O. Russell entrega uma direção competente, porém destituída de qualquer marca autoral. O roteiro é bem escrito, mas transita por clichês já vistos em inúmeras outras produções. A superação, que é a tônica que guia o roteiro, é um tema relativamente fácil de cair no gosto popular, afinal todos nós queremos acreditar que a vida é simples, apesar de todas as lutas inerentes á ela, e que os problemas são fáceis de serem resolvidos, acredito que isso possa ter colaborado para a recepção tão boa que o filme vem tendo, uma vez que seu roteiro nos entrega justamente aquilo que procuramos.
Acredito que o filme valha o ingresso, afinal ele definitivamente não é ruim, todavia, ele se enquadra naquela categoria de produções dramaticamente confortáveis, porém facilmente esquecíveis...
O Lado Bom da Vida ganhou o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz de Comédia (Jennifer Lawrence) e está indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Diretor, Ator (Bradley Cooper), Atriz (Jennifer Lawrence), Ator Coadjuvante (Robert De Niro), Atriz Coadjuvante (Jacki Weaver), Roteiro Adaptado e Montagem.
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.