Alien³ - 1992. Dirigido por David Fincher. Escrito por David Giler, Walter Hill, Larry Ferguson e Vincent Ward. Direção de Fotografia de Alex Thomson . Música Original de Elliot Goldenthal. Produzido por Gordon Carroll, Dan Lin, David Giler e Walter Hill. Twentieth Century Fox Film Corporation e Brandywine Productions / USA.
David Fincher já tinha um relativo renome como diretor de filmes publicitários e clipes quando aceitou tocar o projeto de dar continuidade à franquia de Alien, que já tinha rendido até então dois filmes, o excelente Alien, o Oitavo Passageiro (1979) de Ridley Scott e o não tão bom quanto Aliens, O Resgate (1986) de James Camerom. Este foi o primeiro trabalho de Fincher como diretor de cinema e definitivamente ele não representou uma boa estreia, Alien³ se tornaria com o tempo uma obra renegada por boa parte dos fãs da franquia e até pelo próprio cineasta, que hoje não o reconhece como parte de sua filmografia. De fato o filme ficou bem aquém de seus antecessores, bem como das produções que o próprio Fincher viria a dirigir no futuro. Se os grandes trunfos dos outros dois filme do monstrengo alienígena eram respectivamente o suspense e a ação, neste terceiro é tão somente a curiosidade em relação ao que seria feito da trama e dos personagens que sobreviveram no filme anterior, o problema é que tal curiosidade já é satisfeita nas primeiras cenas, estas já nos permitem ter uma noção quase precisa do que virá na sequência e isso não é nada bom...
Sem dúvidas o principal problema do filme não está na direção e nem em nenhum outro aspecto isolado, sua visível carência de qualidade é quase generalizada. Seu roteiro não traz nada de novo - algo que possa justificar este uma continuação - o que salienta a ideia de que este se trata apenas de um caça níquel. As atuações são em sua maior parte sofríveis, nem Sigourney Weaver, que fora tão elogiada pelo seu trabalho no filme de Cameron, consegue repetir seu bom desempenho e isto se dá não tão somente por culpa dela, mas principalmente pela má inserção de sua personagem na continuidade da história. Tecnicamente o filme demonstra um nível de qualidade bem precário que aponta ou para a falta de recursos ou simplesmente para o desleixo dos profissionais envolvidos, ele até possui um visual bonito, com bons posicionamentos de câmera e uma boa fotografia, mas os efeitos especiais usados beiram ao ridículo de tão primitivos e isto é uma grande retrocesso em relação ao episódio que o antecedeu.
No filme, a tenente Ripley (Sigourney Weaver) entra novamente em estado de hibernação após os fatos relatados no final de Aliens, O Resgate, porém algo acontece a bordo da nave onde ela e os outros sobreviventes estavam, a capsula onde ela dormia é então lançada no espaço e acaba caindo em um planeta distante que funciona como colônia penal para presos de alta periculosidade. Ao acordar Ripley descobre que ela é, mais uma vez, a única sobrevivente da expedição da qual participara e que está agora entre assassinos e estupradores, em um lugar tão hostil quanto perigoso, no entanto estes são os menores de seus problemas, sem saber ela trouxera o maior deles junto consigo em sua capsula, o Alien. Inexplicavelmente, em uma das primeiras cenas em que aparece, o alienígena poupa a vida da tenente, o que a deixa receosa e tomada por preocupações.
O roteiro parece tentar criar um paralelo entre a ameaça do alienígena e a monstruosidade dos detentos que povoam o planeta prisão, como se quisesse com isso ensaiar teorias sobre a natureza humana, todavia este viés não fica tão claro, uma vez que o que se destaca na maior parte das cenas é a iminência do que está para acontecer, não deixando tanto tempo para uma boa construção dos personagens. O desfecho da história já é prenunciado desde as primeiras sequências do filme, o que elimina de seu desenvolvimento boa parte do suspense do qual ele poderia se valer. Os personagens não são tão bem aproveitados e algumas situações nos soam como adaptações de outras que já tínhamos visto nos primeiros filmes.
Alien³ vale ser visto apenas por fazer parte de uma das franquias mais lembradas da história do cinema e por ser o debut de David Fincher, que é um dos melhores e mais importantes cineastas americanos da atualidade, contudo ele funciona como uma mancha, tanto para a franquia quanto para a carreira do diretor. Eu pessoalmente o vejo como um exemplo claro da forma com que diretores iniciantes têm a criatividade castrada pelos interesses das produtoras e de seus dirigentes. Não consigo enxergar nele praticamente nada que o torne um filme autoral, na minha opinião ele não é nada mais que um filme de produtora lançado à sombra de seus antecessores tão somente para lucrar. Fincher, no entanto, soube usar a máquina a seu favor, ter se rendido ao padrão relativamente baixo desta produção o permitiu ganhar o espaço e o reconhecimento necessários para alçar vôos mais altos em Hollywood. Se Alien³ tem um grande mérito a ser lembrado, este é o de ter aberto a porta para Fincher e consequentemente para algumas das maiores obras primas das duas últimas décadas...
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,