Marcelo Camelo - Toque Dela - 2011 (Universal Music)
À medida que vão aumentando as responsabilidades e a correria do cotidiano nós vamos lentamente abdicando de prazeres que tínhamos e que em algum ponto de nossas vidas nos esquecemos do quão eram bons. Estava aqui refletindo como tem se tornado raro para mim, parar para ouvir um disco do início ao fim. Deixem-me explicar melhor, eu escuto música praticamente o tempo todo quando estou em casa, me acostumei a ter o som ligado quando estou escrevendo, navegando na net, ou fazendo qualquer outra coisa. Mas a verdade é que há um bom tempo eu não parava para escutar música, sabe, simplesmente não fazer nada e deixar que a atmosfera criada pela música me tome por completo. Realmente não entendo que alguns precisem se drogar para “viajar” enquanto existem tanta musicalidade, que pode nos proporcionar ótimas “viagens” sem nos cobrar um preço tão alto por isso.
Já tinha escutado bastante Toque Dela, segundo álbum solo de Marcelo Camelo, quando decidi escrever esta resenha, mas faltava algo. Mesmo já tendo o ouvido tantas vezes, ainda não dava para eu dizer que conhecia o disco e escrever uma crítica sobre ele seria uma tremenda ousadia. Já estava começando a digitar as primeiras linhas, ainda sem ter um norte, quando parei, voltei à primeira faixa no Media Player, desliguei a tela do computador e me deitei, foi a partir daí que realmente comecei a sentir verdadeiramente aquilo que estava ouvindo. O disco me soou totalmente diferente e só assim pude compreende-lo, mesmo que somente em parte ainda. Quando terminou eu senti que estava ao menos um pouco mais preparado para escrever sobre a obra.
Já tinha escutado bastante Toque Dela, segundo álbum solo de Marcelo Camelo, quando decidi escrever esta resenha, mas faltava algo. Mesmo já tendo o ouvido tantas vezes, ainda não dava para eu dizer que conhecia o disco e escrever uma crítica sobre ele seria uma tremenda ousadia. Já estava começando a digitar as primeiras linhas, ainda sem ter um norte, quando parei, voltei à primeira faixa no Media Player, desliguei a tela do computador e me deitei, foi a partir daí que realmente comecei a sentir verdadeiramente aquilo que estava ouvindo. O disco me soou totalmente diferente e só assim pude compreende-lo, mesmo que somente em parte ainda. Quando terminou eu senti que estava ao menos um pouco mais preparado para escrever sobre a obra.
Alguns podem se perguntar, como alguém sem nenhuma noção musical (sou daqueles que conseguem desafinar até batendo palmas em “parabéns pra você”) pode se meter a fazer uma resenha de um disco. Pois bem, tenho que realmente me explicar sobre este aspecto, não pretendo analisar a musicalidade nem tão pouco a harmonia ou a afinação de cada instrumento (na verdade, na maioria das músicas não consigo nem distinguir um instrumento do outro...), o que me proponho a fazer é apenas comentar o que o álbum me proporcionou, o que senti ouvindo as canções e as reflexões a que estas me levaram. Proposta nobre, mas pouco valorizada em um mundo em que a qualidade artística real é substituída apenas pela técnica e pelas fórmulas prontas, que se apresentam como normas a serem seguidas. É melhor deixar de embromação e ir direto á crítica.
No aspecto artístico Toque Dela é surpreendente e a evolução com relação ao primeiro pode ser notada desde a primeira faixa. Marcelo Camelo é de fato um dos melhores artistas que nossa música gerou nos últimos tempos. A maturidade como cantor e compositor já fora alcançada por ele, acredito eu, na ocasião da produção de Ventura (2003), terceiro álbum do Los Hermanos, sua antiga banda, de lá pra cá ele tem se mantido em um constante processo de evolução, que inclui auto referências e experimentações. O Marcelo Camelo de agora é um músico que parece estar com os pés no chão e a cabeça nos ares, ele parece saber precisamente o caminho que está trilhando, a evolução perceptível nas composições a cada disco deixa claro que o experimentalismo, no qual ele mergulhou, principalmente em Sou/Nós (2008), seu primeiro álbum solo, não é uma aventura cega e sim um levante estético, que tem alvo certo e precisão em suas articulações.
Sou/Nós me pareceu, quando o escutei a primeira vez, um içar de velas sem bússola rumo ao desconhecido. O disco era de uma qualidade inegável, mas era bastante experimental e do tipo que não é fácil de gostar já na primeira audição. Com o tempo, à medida que fui o compreendendo, percebi que ali estava a alma do compositor sendo despida em canções melancólicas que abordavam o amor, a perda e principalmente a solidão. Toque Dela mostrou que aquele levantar de âncoras em 2008 não foi assim tão impensado, o novo disco se apresenta como uma continuação daquele navegar. Agora as músicas não estão tão difíceis e até podemos perceber uma porçãozinha de alegria que vai se desenvolvendo durante cada uma das faixas. No entanto, a solidão volta a ser um tema inspirador para Camelo, na primeira faixa, a noite, ele canta: “Triste é viver só de solidão, pena de quem nunca, esteve aqui, pra ver fazer dormir a noite, passará depois em cada despedida, nos romances os mistérios dessa clareira, que há de luz iluminar, é, vai ver é só saudar o sol...” Em tudo o que você quiser ele pondera: “Tudo o que você quiser, tempo de recomeçar, solidão eu já vivi, na cidade que não volta... Hoje eu vim pelo mar, naveguei de volta, só passei pra falar, que eu não vi resposta...”
Sou/Nós me pareceu, quando o escutei a primeira vez, um içar de velas sem bússola rumo ao desconhecido. O disco era de uma qualidade inegável, mas era bastante experimental e do tipo que não é fácil de gostar já na primeira audição. Com o tempo, à medida que fui o compreendendo, percebi que ali estava a alma do compositor sendo despida em canções melancólicas que abordavam o amor, a perda e principalmente a solidão. Toque Dela mostrou que aquele levantar de âncoras em 2008 não foi assim tão impensado, o novo disco se apresenta como uma continuação daquele navegar. Agora as músicas não estão tão difíceis e até podemos perceber uma porçãozinha de alegria que vai se desenvolvendo durante cada uma das faixas. No entanto, a solidão volta a ser um tema inspirador para Camelo, na primeira faixa, a noite, ele canta: “Triste é viver só de solidão, pena de quem nunca, esteve aqui, pra ver fazer dormir a noite, passará depois em cada despedida, nos romances os mistérios dessa clareira, que há de luz iluminar, é, vai ver é só saudar o sol...” Em tudo o que você quiser ele pondera: “Tudo o que você quiser, tempo de recomeçar, solidão eu já vivi, na cidade que não volta... Hoje eu vim pelo mar, naveguei de volta, só passei pra falar, que eu não vi resposta...”
Numa entrevista recente, concedida ao O Globo, Marcelo Camelo, lembrou com sarcasmo, que só apareceu no Fantástico em três ocasiões, quando foi agredido por Chorão (a quem o tempo já fez o favor sepultar no mar do esquecimento), quando começou a namorar Mallu Magalhães (na época com 15 anos) e quando Jim Capaldi gravou Anna Júlia. Em comunidades e fóruns em redes sociais, fica claro que Camelo e sua antiga banda não é nenhuma unanimidade entre o público médio, ele já foi acusado de ser um “hippie idiota” e de estar chapado ao dar determinadas declarações que geraram polêmica. A explicação mais plausível de tudo isso é que a massa (me perdoem o uso de um termo tão retrógrado), que está acostumada aos sertanejos universitários, pagodes e similares que tocam à exaustão nas rádios, se incomoda ao ter a inteligência (que prefere não usar) incitada por uma obra artística. Deve-se reconhecer, que apesar de ser menos estranho que Sou/Nós, Toque Dela é tão avesso aos padrões comerciais quanto o primeiro. Este é um disco composto basicamente por reações, não é atoa que Camelo tenha elogiado a banda Hurtmold, que o acompanha desde o primeiro solo, por conseguir dar a uma música a cara de um pôr-de-sol, conforme tinha pedido.
Toque Dela é um álbum no mínimo singular, apesar de não ter nenhuma canção que “empolgue” à primeira audição, ele é composto por 10 faixas, que mantêm durante todo o tempo, um altíssimo padrão de qualidade, o mergulho que consegui fazer no disco nesta tarde me levou à esta conclusão. Marcelo Camelo conseguiu produzir uma obra extraordinária, um trabalho que parece totalmente deslocado no tempo e no espaço. A crítica buscou na mudança de Camelo, do Rio para São Paulo, um motivo que explicasse a mudança na áurea que o disco traz consigo, mas talvez este não seja, nem um disco carioca nem paulista, sendo simplesmente diferente. Não é de forma alguma um bom exemplo de obras musicais produzidas por nossa geração. Toque Dela contraria tudo aquilo que atualmente se tem valorizado, como a rapidez, o imediatismo e os efeitos prontos, ele é um disco para ser ouvido com tempo e com calma, para ser pensado e apreciado aos poucos. Recomendo apenas para quem sabe apreciar a boa música!
Confiram o vídeo da canção ÔÔ no you tube (Clique AQUI) - outras músicas de Toque Dela foram postadas no mesmo canal!
.