O Homem de Aço (Man of Steel) - 2013. Dirigido por Zack Snyder. Escrito por David S. Goyer e Christopher Nolan, baseado nas histórias e personagens criados por Jerry Siegel e Joe Shuster. Direção de Fotografia de Amir Mokri. Música Original de Hans Zimmer. Produzido por Christopher Nolan, Charles Roven, Deborah Snyder e Emma Thomas. Warner Br9os., DC Entertainment e Third Act Productions / UK | USA | Canadá.
A constante necessidade de reciclar e de revisitar antigas fórmulas de sucesso faz com que a industria cultural se coloque por vezes em uma situação vergonhosa que a leva a produzir obras totalmente injustificáveis, raramente uma dessas produções se salvam... Desde que os filmes de super-heróis voltaram à moda no início da década passada, diversos personagens das HQs ganharam longas-metragem em live action, alguns desses filmes renderam continuações e outros até prequels e/ou reboots. Apesar de serem meros caça-níquéis, algumas dessas obras se destacaram, isso porque trouxeram consigo algum elemento, técnico ou dramático, que acabou funcionou como um diferencial, outras, no entanto, a grande maioria, deram apenas uma roupagem nova para antigas fórmulas. Dentre estas, tiveram aquelas que fracassaram por tentar inovar sem a dose ousadia necessária para sair do lugar comum, este é o caso de O Homem de Aço (2013) de Zack Snyder.
É quase inevitável que se crie alguma expectativa em relação a este tipo de filme, o público que consome estas obras com um entusiasmo mais elevado anseia por saber se o roteiro será ou não fiel à história original, se esta obra dará ou não continuidade às histórias já contadas com os mesmos personagens e, principalmente, se o filme passará no teste ao qual é submetida a grande maioria das adaptações: se ele é ou não melhor que a obra que o originou. No caso de O Homem de Aço, podemos somar a tudo isso três outros fatores: a presença do cineasta Christopher Nolan (que dirigiu a mais recente trilogia do Batman), como produtor e co-roteirista (ele é um dos responsáveis pelo argumento); a recepção fria que Superman: O Retorno (o filme anterior do herói) teve, quando lançado em 2006; e a estilização gráfica, característica das obras de Zack Snyder, que já chamava a atenção nos primeiros vídeos promocionais do longa, por dar a ele uma aura aparentemente reflexiva e contemplativa.
Para a decepção daqueles que criaram expectativas exacerbadas, a presença de Christopher Nolan acabou colaborando pouco para a qualidade do filme (não descarto a possibilidade de ser ele um dos grandes responsáveis por sua mediocridade, uma vez que ele provavelmente teve uma grande influência sobre o processo criativo, por ser um dos produtores). O roteiro de O Homem de Aço é extremamente raso e isso compromete toda a narrativa. Sem uma boa história para contar, Zack Snyder aposta no aspecto sobre o qual detém um relativo domínio: os malabarismos visuais. Não por acaso o filme acaba se rendendo às sucessivas sequências de destruição, repletas de efeitos especiais, que tentam o sustentar em seus últimos atos. A revisão de alguns pontos da história do herói, que poderia ter sido o grande diferencial do longa, acaba tornando evidente o quão frustrada foi a tentativa de emprestar algum realismo para a trama, os fãs do personagem alimentaram a esperança de que fossem fazer aqui algo parecido com o que fora feito na trilogia do homem morcego dirigida por Nolan, o resultado final, contudo, passou bem longe disso.
A trama do filme chega a parecer minimalista, tamanha a sua resistência em se aprofundar nas questões abordadas. A passagem na qual um grupo de condenados recebe o exílio como castigo dá uma pequena noção do quão problemático é o roteiro, afinal de contas o exílio salva os condenados de desaparecerem junto com o planeta onde viviam, cuja destruição iminente já era aguardada pelo restante da população que tinha algum entendimento sobre o que estava acontecendo; isso soa no mínimo idiota, uma vez que aqueles que os condenam, mesmo sabendo disso tudo, permanecem no planeta, aguardando o momento de suas próprias mortes, sem que haja qualquer justificativa para isso. Restam ainda os clichês associados à figura do herói deslocado, que busca seu lugar no universo, e um romance forçado, pessimamente desenvolvido na trama.
Henry Cavill, que encarna o protagonista, Michael Shannon que dá vida ao General Zod e Kevin Costner que vive Jonathan Kent, o pai do herói, estão muito bem, seus desempenhos constituem um dos pontos mais positivos do filme. No entanto, nem as boas atuações, nem as cenas de ação bem construídas e tão pouco a bela fotografia são o suficiente para poupar o filme de ser uma das maiores decepções do ano. O roteiro raso e a narrativa paupérrima comprometem toda a obra e o que sobra é a impressão de que de fato este era um filme totalmente desnecessário... Não creio que seja preciso fazer aqui nenhum resumo do argumento, afinal trata-se da mesma história que já nos foi contada inúmeras outras vezes, as pequenas variações que então percebemos pouco acrescentam para a composição dos personagens e são incapazes de justificar a pseudo ousadia que Zack Snyder reivindica para si... "É um pássaro? É um avião?" Não, é a manifestação dos egos inflados de cineastas e produtores em crise...
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.