Milagre na Cela 7 (Yedinci Kogustaki Mucize)
- 2019. Dirigido por Mehmet Ada Öztekin. Escrito por Özge Efendioglu e Kubilay Tat. Direção de Fotografia de Torben Forsberg. Trilha
Sonora Original de Hasan Ozsut. Produzido por Saner Ayar, Sinan Turan e Cengiz Çagatay. Turquia.
Eu normalmente prefiro esperar o hipe passar para assistir a um filme ou série sobre o qual todo mundo esteja falando, mas hoje decidi fazer o oposto e assisti O Milagre da Cela 7. O filme tem dividido opiniões, o público o exalta, enquanto parte da crítica especializada o massacra. Em tempos de polarização, talvez as defesas e ataques extremos tenham sido o que chamou a minha atenção (e olha que eu tenho tentado ao máximo evitar as tretas).
A seguir tentarei tecer algumas considerações, analisando-o não como mero entretenimento, mas como cinema. Se ele funciona bem no primeiro universo (o que se vê pelo sucesso de público), ele tropeça em diversos aspectos no segundo. Antes que me questionem se o cinema não pode entreter ou se o entretenimento não pode ser considerado cinema, explico que para efeito de análise considerarei como cinema a obra dotada de valor artístico, considerando que o valor artístico está no diálogo que a obra é capaz de estabelecer com o espectador.
O mero entretenimento normalmente abre mão do diálogo por entregar pronto aquilo que caberia ao espectador decodificar. Quanto mais “acabada” é a obra, menor o seu potencial artístico. Todo o aparato de linguagem se volta nestes casos para despertar no espectador um tipo específico de reação, não havendo, por isso, tanto espaço para a reflexão, para a contemplação ou mesmo para o questionamento.
O Milagre da Cela 7, como afirmei acima, funciona como entretenimento e de fato esta é a sua proposta, seu objetivo não é o de levantar reflexões profundas que perseguirão o espectador por dias, semanas, ou quiçá pra vida toda, ele te emocionará, todavia, no dia seguinte, quando você lembrar das mesmas passagens, elas já não produzirão mais o mesmo efeito, afinal tudo é muito raso e efêmero, o que não deixa de ser uma característica predominante no cinema mainstrean.
O filme tem inegável qualidade técnica, bela fotografia, movimentos de câmera cuidadosos e belíssima direção de arte, todavia, todos estes aspectos são reduzidos ao propósito de fazer emocionar e isso, confesso, é algo que me incomoda bastante. É possível antever todas as cenas em que algo triste irá acontecer, tão somente pela progressão da trilha sonora. Pode-se, inclusive, afirmar que é a trilha que pontua quando o espectador deve rir ou se emocionar; e isso, meus caros, nada mais é que manipulação barata.
Talvez o filme funcionasse um pouco melhor como cinema se ele tivesse a trilha amputada de si, afinal de contas o argumento dele é bom. O roteiro poderia ter sido melhor desenvolvido, se não estivesse tão sujeito, como os outros aspectos, à pretensão de emocionar. Ele possui boas atuações, mas falha na medida, o que se percebe mas inúmeras reações de personagens que soam forçadas no contexto em que acontecem.
O Milagre da Sela 7 entra, como eu havia previsto, naquele já volumoso grupo que tem como expoentes filmes como A Vida é Bela (1997), Cavalo de Guerra (2011), O Menino do Pijama Listado (2008) e um incontável número de obras de menor expressão. Obras em que o melodrama sufoca todo o potencial e a importância do tema abordado.
No atual caso, a frustração, pra mim, veio do fato de eu cheguei a me alegrar por perceber que o público estava dando atenção a uma obra de fora do mercado hollywoodiano e, tal como aconteceu no caso do francês Intocáveis (2011), o que eu vi no filme foi mera cópia de um modelo explorado à exaustão no cinemão americano... e as coisas podem piorar se Hollywood decidir, daqui a alguns anos, fazer um remake.
Resumindo, O Milagre da Cela 7 será uma boa pedida se você apenas quiser se deixar levar. Para os saudosistas, ele lembrará os inofensivos filmes feitos para a TV que cansamos de assistir no Cinema em Casa e na Sessão da Tarde. Agora, se você quiser experimentar aquilo que boa parte do público tem experimentado, abra mão da reflexão durante a sessão, separe o lenço e laissez faire...