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quarta-feira, 27 de maio de 2020

A Terceira Via e seus Críticos - Livro

A Terceira Via e seus Críticos de Anthony Giddens. Lançado originalmente em 2001. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro. Record, 2001.


Tido como um dos grandes teóricos da nova social democracia, o sociólogo Anthony Giddens, influenciaria com suas obras os rumos de governos nos países desenvolvidos e nos emergentes. Seu pensamento seria adotado como um norte em um período em que boa parte da literatura econômica e social das décadas anteriores começava a não acompanhar a rapidez das transformações do mundo globalizado.

Tony Blair, Romano Prodi, Bill Clinton, Fernando Henrique Cardoso, dentre outros, na época em que o livro foi publicado, já colocam em prática parte daquilo que seria defendido na obra. A terceira via proposta por Giddens é na verdade um meio termo entre o liberalismo econômico e o estado de bem estar social, com uma forte inclinação para o primeiro lado.


O autor defende uma coexistência entre o mercado, o estado e a sociedade civil, que seria necessária, segundo ele, para a manutenção de uma democracia plena condizente com a nova conjuntura imposta pela globalização.


Ele não nega os conceitos de esquerda e direita, e inclusive chega a citar a obra de Noberto Bobbio, Direita e Esquerda - Razões e Significados de uma Distinção Política como uma leitura seminal sobre o tema. No entanto, o que ele propõe é uma alternativa, que não seria novidade, o próprio Bobbio já tinha classifica tal tendência como a "terceiro inclusivo".


O modelo proposto preserva a força do estado, o que se mostra como o principal ponto de discordância entre Giddens e os liberais, o que seria necessário para balizar a atuação do mercado e da sociedade civil e atuar na minimização das desigualdades, quando estas restringissem oportunidades de ascensão.


No entanto, não há neste pensamento qualquer tipo de subversão ao status quo, há a defesa da responsabilização do topo da pirâmide econômica pelas injustiças sociais, mas mecanismos de redistribuição de renda, como a tributação progressiva, são defendidos com certa timidez.


A globalização é vista como um processo já consolidado, o mercado chega a ser quase idolatrado como o ente detentor da capacidade de resolver os problemas sociais (a maioria decorrentes de sua própria atuação). A suposta igualdade de oportunidades, seria, numa leitura mais crítica da obra, apenas uma preocupação com a formação da mão de obra necessária à cadeia de produção e de meros consumidores.


A fragilidade da obra talvez esteja justamente no ponto em que o próprio autor considera a sua grande força: a capacidade de dar soluções adequadas para problemas do mundo atual. "A Terceira Via e Seus Críticos" foi publicado antes do atentado de 11 de setembro, antes da crise de 2008, antes do Brexit e de tantas outras transformações que tornam distante o contexto no qual ele foi publicado.


Por ironia do destino, apesar do governo FHC ser citado na obra como exemplo de uma das materializações práticas da terceira via, conforme proposta, são os governos Lula e Dilma que melhor representam a prática daquilo que fora proposto, inclusive com os pontos fracos, que levariam à queda do Lulismo e à crise política pela qual o Brasil passa hoje.


O pacto proposto por Giddens, ao menos por aqui, funcionou apenas até que a redução das desigualdades tornasse os pobres menos dependentes, o que desagradaria as elites tradicionais e levaria à quebra do pacto e a readoção de um modelo muito mais neoliberal do que o imposto ao país pelo FMI na década de 90.

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