Há alguns meses completara a idade de 21 anos, cursava o ensino superior e optara por uma carreira que lhe parecia promissora. Não era a área em que se graduava, mas era, principalmente devido à estabilidade, um emprego que lhe fascinava. Ele estava amadurecendo, passara triunfante pela adolescência. Havia ficado para trás boa parte das aventuras e da inconsequência juvenil. Já não sonhava mais com uma banda de rock ou com uma sociedade plenamente justa e igualitária, perdera com o passar do tempo boa parte de sua intensa capacidade de sonhar. Naquela tarde estava em casa, lhe sobrava um pouco da melancolia provocada, não pelo que acontecera, mas pelo que deixara de acontecer na semana anterior. Mais cedo ele tinha estado na casa de um amigo, colega da faculdade, digitou um artigo, que possivelmente ninguém leria, jogou conversa fora e depois voltou para casa com um quê de tristeza no olhar.
Era uma típica tarde de junho, parte de um daqueles dias em que faz frio à noite e pela manhã e à tarde o sol esquenta produzindo um clima seco, propício às doenças respiratórias. Ele era um dos afetados, com as amídalas já irritadas e as narinas escorrendo, os sintomas se repetiam a cada ano nesta mesma época. Os espirros que geralmente o irritavam, naquele momento ainda não tinha lhe furtado a calma que lutava para preservar. Não estava nervoso, estava bem melhor, se refazia do estado de intensa ansiedade dos últimos dias.
A sensibilidade e a alma à flor da pele lhe permitiam observar a poesia que ao seu redor a natureza escrevia, eram os beija-flores que voavam brincalhões, o gato que escalara os muros até o topa da cobertura da igrejinha, era a luz do sol que se refletia nas folhas dos pés de goiaba e abacate... A simplicidade lhe comovia mais do que qualquer outra coisa. Sentia saudades de sua infância, tempo em que pouco era preciso pra se sentir feliz. Ele era considerado um felizardo pelos vizinhos e até por alguns dos amigos; o trabalho, os estudos... Entretanto, não, ele não estava feliz, em seu intimo sentia que algo lhe faltava. Faltava realização, faltava o lúdico, carecia de mais poesia...
A tarde se aproximava do fim, as reflexões que se iniciavam em sua mente, se não fosse a dor de cabeça que já lhe incomodava, poderiam prosseguir pela noite que se aproximava, elas lhe roubariam a atenção durante a aula e talvez o precioso sono daquela noite. Ele não permitiria, tinha medo de que a ansiedade voltasse a lhe perturbar.
Afastou mochila, livros e outras coisas que se amontoavam sobre a cama, abriu um caderno velho e pôs-se a escrever. Sabia que não tinha grande talento literário, mas se sentia bem ao abstrair o real sob a forma de um personagem, alguém sobre quem ele teria total domínio, alguém não tão mesquinho quanto ele se achava, não tão medíocre quanto a maioria das pessoas que lhe rodeavam. Seu personagem não se tornaria conhecido, assim como seu artigo, talvez ninguém se prestasse a ler o que escrevera.
Muito legal o texto.
ResponderExcluirAs vezes, mtas pessoas n se sentem 100% felizes e parece q algo falta. Um amigo me disse uma coisa um dia que nunca esqeci. Ele falou assim: "Toda pessoa grita por Deus interiormente. Elas sentem um vazio que só Deus preenche." E é por isso q muitas pessoas n sao realmente felizes, msm tendo "td".
E cada personagem tem um poquinho da gente, msm q nao seja o personagem principal, mas em td q escrevemos há um pouco de nós. Achei legal o ultimo paragrafo. ^^
Obg pela visita lá no "Primeiros Esboços Ruins". (: