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terça-feira, 10 de junho de 2008

UM ARTIGO DEPRIMENTE


Já há quem diga que o “mal do século presente” é a angustia existencial provocada pelas doenças neuropsicológicas. Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que, no ano 2000, a depressão era a quinta causa de incapacitação. Em 2020, poderá ser a segunda. Realmente tais dados à primeira vista podem parecer alarmantes, mas devem ser analisados com muito cuidado. Ainda persiste a falsa ideia de que a depressão seria o resultado direto de uma carência de serotonina no cérebro, ideia difundida pelos anúncios das companhias farmacêuticas. Muita gente que poderia estar apenas precisando de um bom aconselhamento está sendo exposta a riscos ainda não avaliados e enveredando por um caminho que pode não ter volta.

       “Até que ponto a tristeza provocada por perdas e frustrações não está sendo confundida com depressão?” Questiona o ex-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria e atual conselheiro da entidade, Marco Antônio Brasil, “Sofrimento faz parte da vida. Nem todas nossas dores podem ser saradas com remédios.” Para Marco Antônio, a psiquiatria tem deixado em segundo plano a origem psicossocial dos transtornos psicológicos. Muitos deles como a bulimia, a anorexia, o estresse e a síndrome do pânico, ele diz, são provocadas por pressões da vida contemporânea.

Existe atualmente na vida social, uma cobrança ao indivíduo quanto ao seu sucesso, à sua aparência e quanto ao seu desempenho para com o meio e para consigo. Se os modelos preestabelecidos não são alcançados, a frustração e o sentimento de perda e de não pertencimento que lhe são imputados serão decisivos para sua opção pelo início de um tratamento, na maioria das vazes a base de medicamentos. Este quadro, impulsionado pela mistificação dos terapias tem levado a uma banalização do uso dos remédios antidepressivos. As pessoas têm se entupido de calmantes por um simples problema de insônia que poderia ser passageiro ou solucionado, com apenas algumas mudanças de rotina. Cultiva-se a idéia absurda de que um comprimido pode resolver os problemas de auto-estima, timidez ou falta de realização.

O grande perigo ocorre quando se esquece que tais medicamentos, os “tarja-pretas”, são como uma outra droga qualquer, causam dependência e podem provocar males irreparáveis. Estes medicamentos, que só deveriam ser usados em casos extremos, já estão sendo consumidos desenfreadamente, muitas das vezes sem prescrição médica, ou sem acompanhamento de um profissional responsável. Enquanto uma multidão de autopiedosos e insatisfeitos buscam uma espécie de fuga, se drogando, quem lucra são os laboratórios farmacêuticos. A opção das pessoas em não enfrentar sua própria realidade e o medo de encarar seus traumas e pesadelos, as tornam vítimas fáceis para as artimanhas publicitárias destas empresas.

Em 2002, nos Estados Unidos, no programa de Oprah Winfray, o jogador de futebol americano Ricky Willians, disse sofrer de uma “timidez dolorosa e crônica”. Descobriu-se depois que o jogados fora pago pelo laboratório Glaxo Smith-Kline para falar que sua timidez era doentia. Em 2003, uma propaganda do Zoloft (antidepressivo) publicada no American Journal of Psychiatry, mostra uma jovem cabisbaixa e uma pergunta: “Ela é tímida? Ou isto é uma desordem de ansiedade social?” logo abaixo, se lia “Zoloft, agora indicado para desordens de ansiedade social.”

Em Timidez: Como um comportamento normal se tornou uma doença, o autor, Cristopher lane acusa os laboratórios de ocultarem os efeitos colaterais da maioria dos antidepressivos. Só nas versões mais recentes do Prozac foram incluídas na bula advertências sobre a possibilidade de tremores incontroláveis, diminuição da capacidade sexual, idéias de suicídio e autodestruição (sic). Pergunto-me: Será que tais medicamentos são tão menos nocivos que o cigarro, o álcool ou até mesmo que algumas das drogas ilícitas? Eu, sinceramente, creio que não.

Há pouco mais de um ano uma médica, clinica geral, (sem nenhuma formação na área de psicologia), me diagnosticou um quadro de ansiedade, na ocasião ela me receitou um medicamento controlado, disse que eu me sentiria melhor tomando-o e que poderia pegar no próximo mês uma outra receita, sem precisar de nova consulta. Ao ver na bula que o tal remédio poderia causar dependência, decidi não toma-lo. A ansiedade voltou a me incomodar tempos depois, mas a situação já era bem diferente, eu já compreendia que era um quadro “normal”, resultado de fatores externos, incomodava um pouco e depois se ia junto com a situação que a tinha provocado. Eu não caí na armadilha... Perdi a chance de quem sabe num futuro próximo passar por sessões de eletro-choque, terapia quem tem voltado com força total em clínicas e hospitais do Brasil.

(Alguns dados foram extraídos da Matéria “Eletrochoque” de Consuelo Dieguez, publicada na Revista Piauí – Nº 21)


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