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domingo, 8 de maio de 2011

Bananas

Bananas - 1971. Dirigido por Woody Allen. Roteiro de Woody Allen & Mickey Rose. Direção de Fotografia de Andrew M. Costikyan. Música de Marvin Hamlisch. Produzido por Jack Grossberg. MGM - United Artists / EUA.

 

Na crítica de cinema ainda é muito comum o mito sobre a “roupa invisível do rei”, aquela que só os mais inteligentes podem ver. Explico, em muitas situações a assinatura de um profissional cultuado pode transformar um filme fraco em um clássico imediato. Na verdade tal situação se torna uma faca de dois gumes, por exemplo, convencionou se dizer que Godard faz filmes intelectuais de de difícil compreensão, ao lançar um novo filme o cineasta pode colher diversos tipos de reações; dentre elas, a daqueles que dizem que o filme é ótimo apenas por ser de Godard e fingem um entendimento que não tiveram e a daqueles que realmente compreenderam a mensagem da obra e que correm o risco de serem taxados de pseudos intelectuais pelos outros que não entenderam nada. Quanto mais cultuado o cineasta, mais fácil se perder neste tipo de crítica. Acho uma canalhice resenhar positivamente um filme apenas para parecer cult e inteligente, eu não tenho vergonha de dizer que já boiei em muitos filmes ditos "de arte", dentre eles está 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), cujo roteiro ainda me causa algumas dúvidas até hoje.

Sou um fã confesso de Woody Allen e me identifico muito com boa parte de suas produções, a admiração que tenho por ele foi o que me levou a comprar um box, com 20 dos filmes mais importantes de sua carreira. Alguns destes eu ainda não tinha visto, mas ao invés de começar por aqueles que me despertam mais curiosidade, decidi começar pelo começo. Como de fato seria o mais racional, resolvi assistir aos filmes pela ordem cronológica de lançamento. Antes de iniciar a longa empreitada eu já tinha a noção do risco que eu assumia, de em algum momento acabar caindo na cilada da “roupa invisível”. Se tem uma certeza a que cheguei, depois de 4 anos esquentando cadeira de uma faculdade de jornalismo, é que imparcialidade e distanciamento não existe na prática, mesmo sabendo que a ideia que eu já tinha do cineasta poderia influenciar decisivamente na forma com que assistiria os filmes, decidi tentar manter o olhar crítico sobre cada um dos aspectos dos filmes que viria a assistir, deixando um pouco de lado a idolatria ao realizador.


 

O primeiro da lista era Bananas (1971), o segundo longa dirigido por Woody Allen. O filme faz parte da fase mais cômica do diretor, que é marcada por gags e piadas inteligentes, que normalmente não podem ser bem digeridas pelo público médio. Anos depois o diretor contaria em entrevista, publicada no livro Conversas com Woody Allen, que o filme fora salvo na montagem, ele ainda reconheceu que na época tinha ainda pouca intimidade com a linguagem cinematográfica. Já de início percebemos que o forte do filme são os diálogos e as tiradas do personagem principal, interpretado pelo próprio Woody. De fato não dá para considerar o filme um clássico, ele funciona mais como uma espécie de ensaio para as produções que viriam em seguida (o conto da roupa invisível não colaria comigo). O filme já trás consigo algumas das características que acompanhariam a obra do diretor, como as reverências e referências ao próprio cinema e à alta cultura e ainda inauguraria o tipo clássico que Woody viveria em seus filmes, o homem desajustado socialmente, paranóico, inseguro e sem nenhum jeito com as mulheres.

 

Bananas conta a história de Fielding Mellish (Woody Allen), um testador de produtos, que se apaixona por uma jovem e também desajustada ativista. Depois de levar um fora dela, ele decide fazer uma viagem para o lugar do qual ela tanto falava e fazia planos de “visitar”, um país em algum lugar da América Latina que se chama San Marcos. A pequena república sofrera recentemente um golpe de estado, que tinha deixado o poder nas mãos de um cruel ditador de extrema direita, a quem os Estados Unidos apoiava. Chegando ao país Mellish é recebido pelo presidente, que em seguida tenta o executar, na sequencia ele se junta aos rebeldes que tentam depor o presidente e tomar o governo. O filme faz assim uma bela sátira às ditaduras, tanto de direita, quanto de esquerda, que se proliferavam na América Latina no período. Numa das melhores tiradas do filme, um soldado que está sendo enviado em grupo para o país pela CIA, pergunta por qual lado eles hão de lutar, outro responde que a CIA, para não correr risco, enviou soldados para lutarem pelos dois lados.

 

Outro aspecto legal do filme são as homenagens que Woody Allen faz a seus ídolos, os cinéfilos mais atentos perceberão no filme referências a outros clássicos do cinema como: Morangos Silvestres (1957) de Ingmar Bergman, Encouraçado Potenkim (1925) de Serguei Eisenstein e Tempos Modernos (1936) de Charles Charplin. Outra curiosidade são as pequenas participações de Sylvester Stallone, ainda no início de sua carreira e de Danny DeVito, o primeiro como um arruaceiro no metrô e o outro como um dos espectadores da noite de núpcias (!) de Mellish. O filme chegou a ser censurado durante o regime militar no Brasil e quando foi liberado ainda teve um pequena cena, que se passa em um tribunal cortada. Este também foi um dos filmes filmes em que Woody contou com colaboração para escrever o roteiro.

 

De fato este não é nem de longe um dos melhores filmes de Woody, mas ele vale pela audácia e experimentalismo de seu roteiro e ainda por testemunhar como é que se nasce um gênio. A fase predominantemente cômica de Woody não demoraria tanto a passar, seu estilo seria amadurecido e não seria a comédia pastelão, mas a de costumes, a marca de seus filmes. Desde então Woody Allen não parou, produzindo uma média de um filme por ano. Sua carreira teria altos e baixos, mas a importância de sua filmografia para a história do cinema contemporâneo é inegável. À medida que for assistindo aos outros filmes do box, as respectivas resenhas serão postadas aqui, não pretendo assistir a todos em uma sequência ininterrupta, até porque creio que seria cansativo tanto para mim, quanto para os poucos leitores deste Blog. Mas pode-se esperar por bastante de Woody Allen no Sublime Irrealidade nos próximos meses!

Assista ao trailer de Bananas no You Tube, clique AQUI !

Confiram também aqui no Sublime Irrealidade a resenha crítica de Crimes e Pecados de Woody Allen, clique AQUI !

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