O Mágico de Oz (The Wizard of Oz) - 1939. Dirigido por Victor Fleming. Escrito por Noel Langley, Florence Ryerson e Edgar Allan Woolf, baseado na obra homônima de L. Frank Baum. Direção de Fotografia de Harold Rosson. Música Original de Harold Arlen, E. Y. Harburg, George Bassman, George E. Stoll. Produzido por Mervyn LeRoy e Arthur Fred. MGM / EUA.
O que pode fazer de filme um clássico atemporal, daqueles que ultrapassam diversas gerações mantendo um inexplicável encanto, que se multiplica e aumenta ainda mais a áurea que paira sobre sua história e seus personagens? Não existe uma resposta precisa para esta pergunta, mas no caso de O Mágico de Oz (1939), vários fatores podem ser apontados como os responsáveis por este efeito tão singular. Estaria mentindo se dissesse que esta fora uma produção despretensiosa, afinal até hoje esta é considerada um dos maiores investimentos do estúdio MGM. Mas acredito que seus realizadores jamais teriam imaginado que o filme atravessaria décadas sem perder sua incrível magia. O livro escrito por L. Frank Baum, que deu origem ao longa, já foi adaptado muitas outras vezes para cinema, mas nenhuma outra chegou nem perto deste, em termos de importância e beleza.
Quem viveu a infância nos anos 90, como eu, deve se lembrar do desenho também inspirado no livro de Baum, que o SBT exibia nas manhãs de segunda a sexta, mas mesmo para quem não viu a série animada a história não é de todo estranha, até mesmo os trapalhões chegaram a fazer um filme que a parodiava, Os Trapalhões e o Mágico de Oroz (1984). Para quem ainda não a conhece, vamos então a um breve resumo da trama: Dorothy Gale (Judy Garland) é uma menina que mora com os tios em uma fazenda no Estado de Kansas, seu único amigo é seu cãozinho, chamado Totó. Uma vizinha da fazenda que fora mordida pelo cachorro ameaça se livrar dele, Dorothy tenta então conseguir a ajuda dos tios e dos trabalhadores da fazenda, mas estes estão muito ocupados para ouvi-la. A menina decide fugir de casa para proteger o Totó e quando está indo embora ela encontra um homem estranho, um vidente que tem visões assustadoras sobre a sua vida, ele a conta que a sua tia Em (Clara Blandick) estava muito doente e preocupada com ela. Tomada pela culpa ela decide voltar para a casa imediatamente.
Um tornado se aproxima e quando Dorothy chega à sede da fazenda, já não há mais ninguém lá, todos haviam se recolhido em um abrido. Os fortes ventos tragam a casa com a menina e o cachorro dentro e eles vão parar em mundo totalmente diferente, chamado de Oz. Quando a casa "aterriza", uma bela mulher aparece e se apresenta como a Bruxa Boa do Norte (Billie Burke), ela conta a Dorothy, que ao cair a casa dela havia esmagado a malvada Bruxa do Leste, o que seria um grande motivo de comemoração. Ao saber do acontecido, uma bando de criaturinhas estranhas, chamadas de Munchkins, surgem e começam uma verdadeira festa, que é interrompida pela Malvada Bruxa do Oeste (Margaret Hamilton), que veio para vingar a morte da irmã e se apossar dos sapatinhos prateados que pertenciam a ela. A bruxa Boa do Norte intervém e dá os sapatinhos, que possuem grande poder, a Dorothy.
A menina que ainda se sentia meio perdida naquele lugar estranho só queria voltar para casa, a Bruxa Boa lhe aconselha então a seguir pela estrada de tijolos amarelos e procurar pelo Mágico de Oz no palácio de esmeraldas, pois apenas ele seria poderoso o suficiente para conseguir leva-la de volta para o Kansas. A garota começa a longa caminhada e no caminho encontra com os três personagens icônicos, o Espantalho (Ray Bolger), que queria um cérebro, o Homem de Lata (Jack Haley) que queria um coração e o Leão (Bert Lahr) que queria ter coragem. Ela os convence a se juntar a ela na busca pelo Mágico, que poderia lhes conceder cada um de seus desejos. O final da história também já deve ser conhecido por quase todos, portanto acho que não seria nenhum grande erro comentá-lo aqui, pecado seria deixar de fazê-lo e com uma boa análise. Depois de tudo que fizeram, Dorothy e seus novos amigos descobrem que o Mágico é na verdade um grande farsante. Mas antes que a frustração fosse sentida, o Mágico, que na verdade era um humano como Dorothy, consegue convencer ao Espantalho, ao Homem de Lata e ao Leão, de que sempre tiveram dentro de si aquilo que estavam buscando.
O Mágico de Oz é um filme pipoca, porém cheio de significados (que herdou da obra da qual foi adaptado). O final pode ser interpretado de diversas formas, podendo ser entendido até como uma alegoria da ilusão de posse, proporcionada por certificados e títulos que podem induzir nos indivíduos a crença de que se tem algo, que nem ao menos é palpável, tal referência fica clara na sequência em o Mágico presenteia o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão com objetos que podem convencê-los de que já possuiam aquilo que foram buscar, o Espantalho por exemplo, só acredita que tem um cérebro de verdade depois de ganhar um diploma. O outro viés interpretativo diz respeito à ilusão quanto a espera de milagres e intervenções divinas que possam conceder aquilo que se almeja, afinal o desenrolar da trama se guia pela ideia humanista de que cada indivíduo tem dentro de si as respostas para suas próprias questões e tudo aquilo que poderia realmente necessitar.
O Mágico de Oz é emblemático também por ser um dos filmes que melhor representou um dos maiores avanços tecnológicos que o cinema experimentos em mais de cem anos, a chegada da cor. Todas as sequências da história que se passam no mundo real são fotografadas, não em preto-e-branco, mas em tons sépia, o espetáculo no entanto começa é quando Dorothy chega a Oz, a tela é então tomada por uma explosão exuberante de cores (ótimo trabalho da Technicolor), que estão presentes em todo o cenário e nos figurinos. Nem consigo imaginar o impacto destas cenas nas plateias da época. Outro destaque inquetionável do filme são as canções, curiosamente eu não tinha mencionado até agora que este se trata de um musical, um dos mais belos de toda a história do cinema. Todas as canções são lindas e tocantes, mas uma se sobressaiu, Over the Raimbow se tornaria um hino e foi por diversas vezes premiada como a melhor música composta para o cinema no século XX.
Arrisco concluir que o não envelhecimento de O Mágico de Oz se deva ao fato de que este filme traz consigo algo que pouquíssimos outros conseguiram: a magia da infância em estado bruto e latente. Houvi a poucos dias de uma amiga que este filme causava um certo incômodo pra ela quando ela era criança, o que eu atribuo à teoria de que talvez nem seja mesmo um filme para crianças e sim para adultos que estejam em busca da meninice perdida. A atriz Judy Garland, que já tinha na ocasião 16 anos, conseguiu expressar com seu olhar curioso e inocente as mais belas reminiscências que temos da infância, uma pena ela ter se sucumbido tão jovem às pressões inerentes à fama, ela morreu de overdose em 1969. O Mágico de Oz é no fim das contas um grande elogio à família e à amizade, o que torna sua mensagem ainda mais urgente nos dias de hoje. Recomendado!
♫ "Someday I'll wish upon a star, and wake up where the clouds
are far behind me, where troubles melt like lemon drop..." ♫
O Mágico de Oz ganhou o Oscar nas categorias de Melhor Música (Herbert Stothart) e Canção (Harold Arlen e E. Y. Harburg), tendo sido indicado também nas categorias de Melhor Filme, Fotografia, Direção de Arte, Efeitos Especias e Efeitos Sonoros. O filme ainda recebeu uma indicação à Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes.
Assistam ao trailer de O Mágico de Oz no You Tube,
clique AQUI !
are far behind me, where troubles melt like lemon drop..." ♫
O Mágico de Oz ganhou o Oscar nas categorias de Melhor Música (Herbert Stothart) e Canção (Harold Arlen e E. Y. Harburg), tendo sido indicado também nas categorias de Melhor Filme, Fotografia, Direção de Arte, Efeitos Especias e Efeitos Sonoros. O filme ainda recebeu uma indicação à Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes.
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Que bacana teu blog, quem dera eu tivesse como ler tudo que já foi postado aqui!
ResponderExcluirContinue as análises! Elas são incríveis.
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