Detona Ralph (Wreck-It Ralph) - 2012. Dirigido por Rich Moore. Escrito por Rich Moore, Phil Johnston, Jim Reardon e Jennifer Lee. Música Original de Henry Jackman. Produzido por Clark Spencer. Walt Disney Animation Studios / USA.
Detona Ralph (2012) é o tipo de produção capaz de ganhar o apreço de diversas faixas etárias sem precisar ser apelativo para tal, ele não é uma obra-prima, nem tão pouco nos coloca diante de algo novo ou de alguma situação capaz de nos surpreender. Aquilo que o torna um filme tão bom também não está na qualidade de seus aspectos técnicos e artísticos, esta pequena centelha que o torna especial em meio a tantas produções do gênero, que chegam aos cinemas todos os anos, está na forma com que ele nos cativa com a simplicidade de sua história, na nostalgia presente em todo o seu desenvolvimento devido às inúmeras referências aos games eletrônicos das décadas de oitenta e noventa e principalmente na importância de algumas de suas abordagens. Diferente do que acontece em Frankenweenie, animação dirigida por Tim Burton, aqui as referências não se sobressaem à trama, uma vez que a própria trama cnstitui a maior de todas as referências.
A história de Detona Ralph se passa em uma casa de jogos eletrônicos repleta de fliperamas, praticamente toda a ação acontece em um mundo cibernético, localizado no interior das máquinas. Quando a loja é fechada os personagens de cada um dos jogos interagem entre si, voltando àquelas que seriam suas vidas normais, como se os games fossem para eles só uma espécie de trabalho. Ralph (voz do John C. Reilly), o personagem central da animação, é o vilão do arcade Conserta Felix Jr., um jogo que está prestes a completar 30 anos, depois de tanto tempo sendo o antagonista, ele decide se tornar um herói, ele almeja ter o mesmo reconhecimento que seu rival Felix Jr. tem. O cansativo trabalho de destruir prédios, que logo em seguida são reparados pelo martelo mágico do herói, perde completamente o sentido para ele e isso o leva a tentar uma mudança radical em sua vida.
Em busca de uma medalha que ateste seu heroísmo, Ralph sai de seu jogo e invade um outro, mais moderno e muito mais radical, ele consegue sua medalha, porém, após uma sequência de desacertos ele acaba indo parar em um terceiro mundo, o do jogo Corrida Doce. Lá ele conhece Vanellope von Schweetz (Sarah Silverman), uma garotinha excluída pelas demais participantes da competição por ter um tilt (um daqueles problemas que costumavam travar os jogos). Ela se sente sozinha por ser desprezada pelas outras garotas e pelo rei, que se empenha em mantê-la o mais distante o possível da corrida. Apesar de alguns atritos motivado pelas temperamentos difíceis de ambos, Ralph e Vanellope acabam se identificando um com o outro, tal identificação vem do fato de que ambos enfrentam em seus respectivos jogos o mesmo problema, a exclusão social.
Uma das melhores surpresas que Detona Ralph me proporcionou foi o inesperado contato com uma trama que vai muito além daquilo que já estamos acostumados a ver em uma animação da Disney, mesmo tendo um vilão maniqueísta, o roteiro ganha pontos ao explorar personagens que são dotados de qualidades e defeitos, o que pode ser observado principalmente nos dois protagonistas, Ralph é, em diversos momentos, violento e egoísta e Vanellope se mostra à princípio incapaz de compreender o drama do novo amigo, o que dura até ela perceber que ele é vítima das mesmas situações que a aflige. O aprendizado que os personagens vivem na trama oferece uma uma boa oportunidade para a abertura de diálogo com crianças, tanto em casa quanto na escola, sobre a importância de olhar o outro além de seus 'defeitos' aparentes e de conhecer de fato quem as pessoas são por detrás das imagens que a sociedade cria para elas, desta forma o filme pode se tornar uma arma de potencial eficácia contra os preconceitos que são alimentados desde a infância.
A questão da exclusão social é outro tema de extrema importância e que também merece ser discutido, o filme o aborda de uma forma simples, porém eficaz, que facilita a compreensão das crianças e que desperta nos adultos a urgência da discussão sobre ele, o que mais uma vez dá uma enorme abertura para um diálogo mais aprofundado com os pequenos sobre o assunto, principalmente no que diz respeito às causas de tal exclusão, que pode ser o desrespeito à diferença, o machismo ou o preconceito contra um determinado grupo ou classe social... Todas estas situações estão presentes no decorrer da trama, Vanellope, por exemplo, é excluída por seu suposto 'problema' e Ralph, por sua vez, é julgado não pelo que é, mas tão somente pela atividade que exerce. Outro ponto interessante, é o fato do protagonista precisar de uma medalha para conseguir o respeito dos demais personagens de seu jogo, o que remete à excessiva valorização dos títulos, que é ensinada às crianças desde muito cedo.
Como eu disse, Detona Ralph não é nenhuma obra-prima do gênero, apesar de ser uma das melhores animações do ano passado, mas a força das abordagens que comentei acima são um grande diferencial que o tornam mais interessante e recomendável. Além de abrir o espaço para discussões e reflexões acerca dos temas que aborda, ele ainda funciona muito bem como um bom entretenimento, sua história simples e cativante é garantia de diversão, principalmente para os saudosistas, para quem as citações de games como Sonic the Hedgehog, Street Fighter, Q-Bert, Pac-Man e Mario terão um gostinho ainda mais especial. Recomendo!
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.
Oi Bruno
ResponderExcluirÓtima crítica. Gostei muito! Eu assisti ao filme com meus filhos e gostei, é do jeito que vc falou mesmo!
Bjos.
Adoro! Detona Ralph é uma animação simpática e para a maioria nostálgica. Não passei a minha vida em fliperamas, mas já joguei muito game, graças a Deus! A Disney quando quer, surpreende.
ResponderExcluirAbs.
Esse filme deve trazer á tona v´parios elementos da infância e adolescência. Só isso aí já ajuda na identificação do filme, que pelo visto também tem um roteiro de qualidade. Doido pra assistir após mais uma excelente crítica J. Xará.
ResponderExcluirOlá, queridão!!! Adorei vc ter feito a crítica desse filme, que se tornou um dos preferidos do Kadu. Detalhe, eu agora sou dessas que só assiste filme de criança, rsrsrs.
ResponderExcluirDetona Ralph não foi meu preferido do ano passado, eu me amarrei em "A origem dos guardiões", pode ter sido mais bobinho, mas eu me encantei com os personagens, hehe.
Sei que não tenho comentado aqui com tanta frequência, mas sempre que consigo... dou uma passada, nem que seja rápida, e essa crítica me agradou bastante, viu?
Grande beijo, amigo. Fique com Deus.