Wish I Was Here - 2014. Dirigido por Zach Braff. Escrito por Zach Braff e Adam J. Braff. Direção de Fotografia de Lawrence Sher. Produzido por Zach Braff, Adam J. Braff, Michael Shamberg e Stacey Sher. Produtoras: Worldview Entertainment, Double Feature Films e Wild Bunch / USA.
Como reagir em um daqueles momentos em que tudo aparenta estar fora de seu devido lugar e a vida nos surpreende com peripécias que parecem estar muito além daquilo que conseguimos suportar? Esta questão é o alicerce da trama de Wish I Was Here (ainda sem título nacional), o novo filme dirigido por Zach Braff. Diferente do que o seu mote sugere, não se trata tão somente de um drama, aqui, tal como em seu primeiro longa, Hora de Voltar (2004), Braff consegue a proeza de dosar na medida certa o trágico e o cômico e o resultado é uma obra que encanta e que emociona sem perder em momento algum a leveza, que se sobressai em situações inusitadas, diante das quais um riso, que chega a ser inocente, é quase inevitável.
Seguindo o que considero ser uma tendência no cinema indie americano atual, Wish I Was Here retrata em sua trama uma América bem diferente daquela que Hollywood sempre mostrou; distante do padrão "terra das oportunidades", o que vemos aqui é um país de oportunidades minguadas, ainda assolado pelo fantasma do desemprego. É neste contexto que Aidan Bloom (vivido pelo próprio Zach Braff), o personagem central, está inserido. Ele é casado, pai de dois filhos e está desempregado. Aspirante a ator, ele ainda espera conseguir um papel de destaque e enquanto isso tenta sobreviver de pequenos trabalhos em comerciais. Sua esposa, Sarah (Kate Hudson), se torna a provedora da casa e, mesmo sendo frequentemente assediada por um colega de trabalho, ela se mantém no emprego para não tirar do marido a chance de viver um sonho cada vez mais distante, que ele continua a alimentar.
A situação se complica ainda mais quando Gabe (Mandy Patinkin), o pai de Aidan, descobre que está com uma doença terminal, ele decide se submeter a um tratamento experimental que é bem caro e por isso deixa de ajudar no pagamento do colégio das netas. O protagonista se vê então diante de duras missões: conseguir um emprego rentável, reunir a família que está se desintegrando, não deixar que os filhos sejam obrigados a ir para a escola pública e ainda dar todo o suporte que o pai precisa. O problema é que ele não tem a mínima ideia de como fazer tudo isso e a sua falta de jeito no trato com estas situações torna cada tarefa ainda mais difícil. Durante o desenvolvimento do filme, é interessante notar o destaque que os enquadramentos dão para o rosto cansado e as rugas já salientes de Aidan; o fato dele já não ser tão jovem é apenas mais um complicativo, que atenua seu drama.
Temas ásperos como a proximidade da morte, a desestruturação familiar e a crise econômica são retratados pelo filme com uma sutileza tamanha, que pode ser facilmente confundida com despretensão, ledo engano, afinal Braff demonstra ter plena ciência de onde quer chegar, sabiamente ele costura situações que, destituídas da sutileza, poderiam ser facilmente confundidas com um amontoado de clichês; aqui no entanto elas compõem um retrato tragicômico da atual situação dos Estados Unidos; situação esta que é marcada não só pela crise econômica, mas também pela crise de referenciais (tão bem exploda em uma das instituições retratadas no filme: o colégio judeu ortodoxo onde os filhos de Aidan estudam).
Wish I Was Here provavelmente não figurará nas listas de melhores do ano, não será indicado a prêmios importantes para a indústria cinematográfica e tão pouco será apontado como uma obra-prima. Ele, no entanto, tem a seu favor a capacidade de cativar pela simplicidade e este pode ser o seu grande trunfo para envelhecer tão bem como Hora de Voltar... Destaco a ótima trilha sonora, composta por nomes como Cat Power e Coldplay, Bob Dylan, The Shins (como já era de se esperar) e os brasileiros do Bonde do Rolê; e o ritmo bem conduzido, que faz com que seu tempo de duração passe em um piscar de olhos.
Curiosidade: A produção do filme, que custou dois milhões de dólares, foi realizada com o apoio do próprio público por meio de uma campanha de crowd funding (forma de financiamento coletivo).
Confiram também aqui no Sublime Irrealidade a crítica de Hora de Voltar (2004), também dirigido pelo Zach Braff.
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.
Valeu pela dica, não conhecia este filme, vou procurar.
ResponderExcluirGostei de "Hora de Voltar", foi uma surpresa a boa direção de Zach Braff.
Abraço
Mais um que ainda não assisti... O.o
ResponderExcluirTô tão desleixada com meus filmes... :(
bjks JoicySorciere => CLIQUE => Blog Umas e outras...
Olá, amigo, O FALCÃO MALTÊS está de volta ao antigo espaço/ blog.
ResponderExcluirVamos voltar a trocar ideias cinéfilas?
Abraços
http://ofalcaomaltes.blogspot.com.br/