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domingo, 23 de janeiro de 2011

Queime depois de ler

Queime Depois de Ler (Burn After Reading) 2008, escrito, dirigido e produzido por Joel e Ethan Coen. Universal / EUA.


Quando se trata dos filme dos irmãos Coen, qualquer crítico se vê diante de um pequeno problema, encaixar a obra em determinado estilo ou escola. Fargo (1996), aquele que talvez seja o filme mais clássico da dupla, é considerado por uns uma “comédia de erros”, por outros “comédia de humor negro”. Queime depois de ler reza pela mesma cartilha. Neste filme estão presentes alguns dos elementos que caracterizam as obras destes dois cineastas: personagens caricatos, sarcasmo e um roteiro onde uma sequência de erros leva os personagens a situações extremas, de onde dificilmente pode se extrair um happy end.
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Em Queime Depois de Ler (2008), tudo começa quando o agente da CIA Osbourne Cox (John Malkovich) pede demissão por não aceitar sua transferência para um cargo burocrático. Ele decide então escrever sua memórias, como uma espécie de vingança contra os antigos colegas. A vida familiar de Cox também não esta nada bem, sua esposa Katie (Tilda Swinton) que quer o divórcio é aconselhada por um advogado a buscar documentos que subsidiem a ação de partilha de bens. Ela tem um caso com Harry Pfarrer (George Clooney), um segurança federal. Ao vasculhar o computador do marido, Katie copia para um CD os rascunhos do que viria a ser o livro de Cox. Por acaso o CD vai parar nas mãos de Chad (Brad Pitt) e Linda (Frances McDormand), ambos funcionários de uma academia, que decidem ganhar dinheiro extorquindo o dono dos arquivos, que seria para eles alguém do “alto escalão”.


Brad Pitt, George Clooney e Fances McDormand estão perfeitos em seus respectivos papeis, eles protagonizaram algumas das cenas mais engraçadas e absurdas do filme. O humor destilado ao longo da história não é o convencional e o roteiro realmente não é do tipo que irá agradar a todos. Não é novidade também que nos filmes dos irmãos Coen o final possa ser motivo de reações controversas e quem espera um final nos moldes Hollywoodianos também irá se decepcionar.

As controversas em torno de Queime Depois de Ler começaram antes mesmo da estreia do longa nos cinemas. Ao mesmo tempo que existia uma grande expectativa em torno do lançamento, devido ao sucesso de Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), que faturou 4 Oscars em 8 indicações, a crítica ironizava a escolha da mesma dupla da franquia Onze Homens e Um Segredo, Brad Pitt e Geord Clooney.


Se você espera um filme de ação ou comédia a lá Jim Carrey e Adam Sandler, com certeza Queime Depois de Ler, não será uma boa pedida. No entanto se você presa por ótimas atuações e um roteiro inteligente que fuja do convencional, você não vai se decepcionar.


Assista ao trailer de Queime Depois de Ler no You Tube, clique AQUI !
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De Joel e Ethan Coen, indico também: Fargo (1996), Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (2000) e Bravura Indômita (2010).

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Desabilitado IV

A terceira e quarta aula aconteceram sem muitas novidades, ele parecia estar um pouco melhor com relação às duas anteriores. Chegara então o dia do exame, naquele noite ele não conseguiu dormir bem, e acordou com uma intensa dor de cabeça. Ainda estava conseguindo manter a postura de não falar com ninguém sobre seus planos, ele acreditava que talvez assim o peso sobre si seria menor, afinal não teria de prestar contas a ninguém. Seu sucesso ou possível fracasso só diria respeito a ele. Mesmo depois de tantas tentativas e tantas aulas, ele não conseguia ter autoconfiança, preferia confiar que Deus pela Sua graça tivesse misericórdia, mesmo não se considerando digno de merecimento... Faria ainda naquele dia, antes da prova, a última aula. Temia que sua ansiedade viesse a lhe atrapalhar, mas estava disposto a tentar. Dentro de algumas horas já teria alguma resposta...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Antes do Anoitecer

Antes do Anoitecer (Before Night Falls) 2000, dirigido por Julian Schnabel, e produzido por Jon Kilik, escrito por Cunningham O`Keef, Larazo Gomez Carriles e Julian Schnabel, baseado no livro homônimo de Reinaldo Arenas. El Mar Pictures, Grandview Pictures / EUA


Comentar um filme "baseado em fatos reias" não é, ao menos para mim, tarefa fácil. Já estamos a princípio diante de duas "verdades", a verdade histórica e a verdade impressa pelo olhar do roteirista e do diretor do filme, estes ainda podem ser influenciados por interesses de terceiros, como produtores e financiadores. No caso do filme Antes do Anoitecer (2000), ainda temos mais um complicativo, uma outra verdade, a do livro de memórias do escritor cubano Reinaldo Arenas, no qual o longa foi baseado. Para comentar o filme eu pretendo tentar me distanciar um pouco dos fatos históricos que o inspiraram e me ater apenas à produção como obra ficcional, mas para comentar o filme é necessário que antes nos inteiremos do contexto político e econômico de Cuba no período.
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Reinaldo Arenas (Javier Bardem) nasceu na cidade de Holguín em 16 de julho de 1943, durante o primeiro governo de Fulgêncio Batista. A situação do país não era das melhores, Cuba era assolada pela fome e pela pobreza estrema. Fulgênco ficou no poder até 1944. Em 1952, após um golpe militar apoiado pelos EUA, o ex-governante volta ao poder e instaura um regime ditatorial marcado por métodos terroristas, pela perseguição de opositores, silenciamento da imprensa das universidades e do congresso. Em 1959 Fulgêncio foi deposto por Fidel Castro, que tentaria implatar, através da revolução o modelo socialista em Cuba.

 

Em 1963 Arenas se muda para Havana capital do país para concluir os estudos, ele consegue se ingressar na Universidade de Havana, mas não chegou a concluir o curso. Naquele período Cuba vivia não só uma revolução social, mas também de costumes. Reinaldo Arenas, que era homossexual assumido, se identificava então mais com a liberação sexual do que com as ideias dos rebeldes que agora estavam no poder. A opção sexual do poeta não era bem vista pelos partidários de Fidel. Os maricones, como eram chamados os homossexuais, eram considerados depravados e, por estarem alheios à mudança política no país, eram visto como uma ameaça e seu comportamento, como uma expressão do estilo de vida capitalista.
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O filme de Julian Schnabel mostra Reinaldo Arenas como um poeta com alma de menino, sensível e apegado às lembranças de sua infância. Por seu comportamento "libertário" Arenas se torna vítima daquilo que seria o principal erro dos regimes baseados no socialismo bolchevique, a supressão da liberdade individual. Em Antes do Anoitecer, a revolução cubana é mostrada apenas como alternância de poder e sua incapacidade de comportar estilos de vidas diferentes a torna tão cruel quanto o regime de Fulgêncio. Arenas chegou a ser preso, acusado de depravação e abuso sexual. Na prisão ele, segundo suas memórias, teria sido torturado, até que o regime decide que ele já podia ser solto (?).

 

Após frustradas tentativas de sair de Cuba, Arenas conseguiu partir quando o governo concedeu uma autorização que permitia que homossexuais e outras persona non grata deixassem a ilha. Temeroso de que pudessem impedi-lo de partir, ele adulterou seus documentos e embarcou com o nome trocado. Os EUA passa a ser, para o poeta, um ideal de sociedade livre, uma das sequências do filme mostra Arenas passeando em um conversível pelas ruas de New York; deitado no banco traseiro do veículo ele contempla os prédios e a neve que cai lentamente. Após esta sequencia ele pondera: "a diferença entre o comunismo e o capitalismo é que, quando se leva um chute na bunda no comunismo você tem que aplaudir, no capitalismo você pode berrar...". Talvez a ilusão de liberdade tivesse deixado o poeta cego (não me contive).
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Em New York, Arenas descobriu que era portador do vírus da AIDS, nesta época começou a escrever Antes que Anochezca, livro que daria origem ao filme 10 anos depois. Em 1990, após concluir o livro, ele suicidou-se com uma dose excessiva de álcool e e drogas. Sua morte é mostrada de uma forma diferente no filme.

 

O principal destaque do filme é a atuação de Javier Bardem, que esta fantástico na pele do escritor. Por uma injustiça histórica ele perdeu o Oscar de melhor ator em 2001, prêmio para o qual foi indicado. Quem ganhou o prêmio naquele ano foi Russell Crowe pelo filme Gladiador. O elenco ainda conta com nomes de peso como Sean Penn, Johnny Depp (que interpreta dois personagens) e Hector Babenco (diretor naturalizado brasileiro, que dirigiu filmes como Carandiru (2003) e O Beijo da Mulher-Aranha (1984). Trilha sonora e fotografia são destaques à parte. Desconsiderando a alcunha de "baseado e fatos reais" e substituindo-a por "inspirado nas mémórias de Reinaldo Arenas", o filme funciona melhor ainda. Com um olhar crítico, pipoca e um refri gelado, Antes do Anoitecer é uma ótima pedida!


Assista ao trailer de Antes do Anoitecer no You Tube, clique AQUI !

Do diretor Julian Schnabel, indico também O Escafandro e a Borboleta (2007)


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Desabilitado III

Sua segunda aula lhe deixou um pouco menos otimista, talvez fosse preciso mais prática do que ele tinha imaginado. O exame (seu 4°) seria já na próxima sexta-feira e ele ainda não estava muito confiante. Na aula fez apenas o mesmo de sempre, baliza, controle de embreagem, conversões, etc. Para que possamos nos ambientar, talvez seja interessante registrar aqui que na cidade onde mora nosso personagem, diferente da maioria das cidades de médio e grande porte, o exame não acontece em uma área específica, e sim em ruas de um bairro residencial, o que dificulta muito, em parte devido ao constante transito de crianças e ciclistas que não respeitam nenhuma das normas de trânsito. Além disso, ele tinha ainda uma grande bronca com o fato de que durante a prova os condutores eram induzidos a praticar uma modelo de direção corretiva, ao invés da defensiva, fazendo assim o oposto do que haviam aprendido nas aulas teóricas. Cesta vez questionou junto ao seu instrutor: "Ou vão me dizer que alguém sai de casa com o carro sem saber qual o trajeto vai fazer, e em cima de um cruzamento decide: 'vou para a direita!'". Apesar de seus questionamentos os exames continuariam como sempre foi... 

Banksy - um grito silencioso


Usei algumas imagens do graffiter Banksy para ilustrar convites para visitas ao Sublime Irrealidade que foram postados no Orkut. De certa forma a estratégia foi boa, mas o tiro acabou saído pela culatra, o talento deste artista embaçava qualquer coisa que eu estivesse tentando dizer sobre meu blog. Um bom número de amigos me perguntaram sobre a autoria das imagens e outros visitaram o Blog na esperança de ver outros grafites ou saber um pouco mais sobre o artista. Por isso decidi fazer aqui um breve perfil deste revolucionário, para uns, contraventor, para outros, detentor de um traço inconfundível.



"O Grafite só é perigoso para três tipos de gente: políticos, publicitários e grafiteiros"




Banksy é natural, como tudo indica, da cidade inglesa Bristol, até hoje a sua identidade é desconhecida, apesar do prestígio conquistado no meio artístico, ele continua sendo considerado um contraventor, pois o grafite como intervenção em propriedades privadas é considerado crime e dá cadeia na Inglaterra. As entrevistas concedidas por Banksy são na maioria das vezes feitas por telefone ou e-mail, o único a entrevistá-lo pessoalmente foi um jornalista do periódico inglês The Guardian, que pela ética profissional não revelou a identidade do entrevistado.





Em uma de suas entrevistas Banksy contou: "Me manifesto anonimamente para exigir coisas nas quais ninguém acredita, como paz, justiça e liberdade". O conteúdo estético de sua obra é visivelmente de cunho anarquista e se configura em um silencioso, porém contundente, grito de protesto com total aversão ao poder e à autoridade. Mesmo disponibilizando o download gratuito de suas intervenções em seu site, o artista se tornou objeto da cobiça de colecionadores de arte, uma de suas obras foi vendida em fevereiro de 2010 por U$ 200 mil.











Em 2010 Banksy foi convidado para criar parte da abertura de um episódio do seriado The Simpsons produzido pela Fox, a abertura foi ao ar nos EUA no dia 10 de outubro e causou uma grande polêmica. Em pouco menos de 2 minutos a abertura mostra uma espécie de fábrica onde mulheres e crianças com traços orientais são escravizados para produzir a série animada e artigos ligados a ela. A abertura teria sido inspirada em notícias de que a Fox estaria terceirizando parte da produção do desenho na Coréia do Sul.











Confiram a polêmica abertura do seriado The Simpsons, criada pelo Banksy, clique AQUI!

Website de Banksy:

Qualquer espécie de afago

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Naquela noite ele estava abatido, uma intermitente dor de cabeça o deixava ainda mais nervoso. Era um aperto tal como se o seu mundo estivesse se convertido em um ambiente sombrio e claustrofóbico. Já há muito ele sentia que suas possibilidades ali estavam escassas e que a fuga poderia ser a sua melhor dentre as possíveis soluções, se não a melhor, ao menos a mais, aparentemente aceitável. Lhe atormentava o fardo de escolhas e erros que não eram seus, queria ele poder colher os frutos de sua própria vontade. Mas no fundo ele temia; temia a si mesmo, temia a sua inércia e a sua visível degradação. Poderia ele estar se tornando mais um vítima do mal deste século: a depressão. Mesmo naqueles momentos mais desconfortáveis ele nem sequer cogitava procurar ajuda de um profissional, afinal não queria ter que pagar para alguém lhe dizer tudo aquilo que já sabia, que já estava cansado de saber. Como ninguém ele conhecia cada uma das causas do estado em que se encontrava. Mas isso em nada lhe ajudava... Quem sabe se ele escrevesse como costumava fazer? Talvez assim a raiva passasse... E a cefaléia, continuaria o incomodar? Ele questionava consigo: seriam as dores a causa ou só mais uma consequência de um problema maior? Talvez não se conhece tão bem como pensava, talvez nem sequer compreendesse mais o que era causa nem o que era efeito. Mas ele não estava louco, só estava cansado... Era a estafa mental quem o colocara diante do computador no meio da madrugada a digitar baboseiras sem sentido. Talvez ele ainda achasse que ao publicar aquilo, como num passe de mágica , tudo que sentia fosse desaparecer. Porém a realidade era mais cruel. Talvez ainda precisasse mendigar, para que um desconhecido qualquer se prestasse a ler (ou a fingir que leu) e postar algum comentário sobre seus desabafos. Isto, junto com as estatísticas de visitas de seu Blog, quem sabe, mesmo que só por alguns instantes não lhe trouxesse alguma espécie de afago...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Desabilitado II

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Ontem foi a 1° aula de direção depois de alguns meses parado. Ainda estava apreensivo e a sensação de ter jogado dinheiro fora com novas aulas ainda não lhe abandonara. Decidiu não contar para ninguém sobre seus planos, mas como era de costume em breve já estaria todo mundo sabendo. Ao final da aula ele se avaliou, concluiu que não tinha sido de todo ruim, é certo que precisaria de um pouco mais de prática antes da temida prova. Ao menos ele não tinha esquecido tudo que aprendera... Seria hoje, dentro de algumas horas a segunda aula, ele ainda não estava confiante, porém o medo já estava passando. Teria ele coragem de enfrentar cara-a-cara o trauma provocado pelo último exame? Só as próximas aulas diriam...
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Origem

A Origem (Inception) 2010, escrito e dirigido por Christopher Nolan. Direção de Fotografia de Wally Pfister. Música Original de Hans Zimmer. Produzido por Christopher Nolan e Emma Thomas. Warner Bros / EUA.


Quando Stanley Kubrick deixou o mundo perplexo em 1968 com o filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, o homem já estava prestes a pisar na lua, o que aconteceria no ano seguinte. Talvez o que tenha causado mais espanto não seja a viagem espacial em si, e sim a presença de um computador inteligente, o HAL 9000, como um dos personagens mais marcantes. A informática ainda engatinhava como ciência, a Arpanet, uma espécie de "mãe" da internet só surgiria no ano seguinte e só em 1971 seria criado o primeiro microprocessador. A idéia de que em 2001 existiria um computador detentor de uma personalidade e capaz de falar com as pessoas era uma teoria totalmente avessa à realidade da época e que de fato nem viria se tornar realidade em 2001 como previsto. Em momento nenhum no clássico de Kubrick não é explicado como o computar funciona, muito menos como ele é capaz de falar e ter reações típicas do comportamento humano. Apesar de ser uma teoria sem embasamento racional, nós quando diante da tela a assumimos como uma realidade "poética" e só assim conseguimos compreender a ideia central do filme. 2001 continua sendo até hoje um dos filmes mais importantes de ficção científica, gênero este que pressupõe, como foi explicado, uma subverversão da "realidade" e a troca por uma outra onde o impossível pode acontecer sem que seja considerado fantasia.

Precisei lembrar 2001 - Uma Odisséia no Espaço, para assim justificar uma das possíveis criticas que poderia ser feita ao filme A Origem (2010) de Christopher Nolan, também de ficção científica, a de que é demasiadamente surreal a idéia de invadir e compartilhar sonhos. Vivemos numa sociedade racionalista e estamos o tempo todo ávidos de explicações que nos sirvam de embasamento para cada uma de nossas questões. Este excesso de racionalização mina nosso potencial criativo e na mesma medida impede a nossa compreensão da criatividade alheia. Preferimos nos contentar com a idéia de que uma profecia de um povo ameríndio possa explicar a proximidade do fim do mundo (como em 2012 (2009), filme que não pretendo assistir), do que aceitar uma "realidade" diferente como possível. Nos tornamos tão mal educados que nem licença poética conseguimos mais ceder...


Assisti A Origem pela primeira vez no último sábado, (15/01), o filme talvez tenha me causado a mesma reação que 2001 causou nas platéias na ocasião de seu lançamento. Eu fiquei perplexo, e a complexidade da construção da trama me deixou uma certeza, eu precisava rever o filme novamente o mais rápido possível e não conseguiria esperar muito tempo. Eu precisava buscar mais respostas e tentar perceber o que não tinha notado antes. Já tinha então varias teorias sobre o final e o decorrer da história no filme, e ontem mesmo, (16/01) decidi coloca-las mais uma vez à prova. Ao contrário dos diversos blogs que comentaram o filme, eu não pretendo registrar aqui uma de minha interpretações, nem tentar convencer ninguém de que a minha visão é a mais coerente. Vou me ater a fazer uma breve sinopse e dar algumas dicas.

 

Dom Cobb (Leonarado DiCaprio) e Arthur ( Joseph Gordon-Levitt) são agentes de uma equipe especializada em invadir sonhos e roubar ideias e segredos corporativos. Depois de uma missão falha na mente de um poderoso empresário, Saito (Ken Watanabe), eles são obrigados a fugir, uma vez que a corporação que os emprega não admite erros. Dom Cobb não pode voltar aos Estados Unidos pois é acusado de um grave crime, Saito, cujo os sonhos Cobb tentara invadir, oferece a este a oportunidade de ter a acusação contra ele revogada e assim poder voltar para a América e rever seus filhos, para isso, ao ivés de roubar, ele precisará fazer a inserção de uma idéia. O objetivo é convencer Robert Fischer (Cillian Murphy), a dividir o império corporativo do pai, quando este morrer. Para a missão Cobb montará uma equipe formada por Arthur, seu braço direito, Saito, que quer acompanhar para ter certeza do sucesso de seu investimento, Eames (Tom Hardy), um "falsificador" capaz de mudar a própria aparência nos sonhos, Yusuf (Dileep Rao) um químico que será responsável por formular um potente sedativo e Ariadne (Ellen Page) a nova "arquiteta", a garota será quem irá criar toda a ambientação do sonho a ser compartilhado. Mal (Marion Cotillard), a esposa de Cobb, que costuma invadir os sonhos compartilhados por ele e frustrar suas missões será um dos obstáculos que a equipe terá que enfrentar para garantir o sucesso da missão.

 

O complexo roteiro de A Origem rendeu comparações com outro filme de ficção científica: Matrix (1999), uma vez que a ideia de realidade é o tempo todo colocada em cheque. Assim como em Matrix, no filme de Nolan nada é como parece ser e, tal como aconteceu comigo, uma reassistida pode ajudar esclarecer dúvidas e colocar em ordem fatos que até então pareciam ser desconexos. Uma repassada pelas teorias de Aristóteles acerca da tragédia grega, pelo mito de Teseus e pelas teorias de Freud e Jung sobre os sonhos podem ajudar na compreensão do história. Também recomendo prestar atenção no nome de um dos personagem e na letra da canção Non, je ne regrette rien, da cantora francesa Edith Piaf, que toca em alguns dos momentos mais importante do filme.

 

Mas se você é daqueles que prezam por bons efeitos especiais, mesmo que em detrimento de uma boa história, A Origem continuará sendo uma boa pedida. Ainda que não entenda neca de piti biriba da trama, os efeitos lhe serão uma atração à parte. Mas vale lembrar de uma das falas de Ariadne, quando Cobb em um diálogo a explica sobre a construção dos sonhos: "eu achava que o importante no sonho era o visual... mas parece que é mais a sensação". A Origem é, desta forma, muito mais sensorial que semiótico, e será preciso "ler nas entrelinhas", para não formar apenas uma ideia minimalista. Pois, diferente de um filme do genero terror, neste filme o sensorial não é tão superficial, pois não é o a nossa sensação que deve contar e sim a do personagem.

  

Apesar de não ter sido vencedor em nenhum das categorias nas quais foi indicado na 68° edição do Globo de Ouro, cuja cerimônia aconteceu ontem (16/01), A Origem, continua sendo um dos favoritos ao Oscar, provavelmente não conquistará o de melhor filme, (prêmio que deve ser entregue ao filme A Rede Social), mas tem grandes chances de levar alguns dos prêmios técnicos. Fica ai a dica de um excelente filme, e quando você assistir poste aqui a sua(s) interpretação(ões).


Do diretor Christopher Nolan, indico também: Amnésia (2000), Insônia (2002), O Grande Truque (2006), Batman Begins (2005) e Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008).
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Assista ao trailer de A Origem no You Tube, clique AQUI !

sábado, 15 de janeiro de 2011

Chico e as histórias que eu não vivi

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Minha mãe, uma dentre tantas fãs confessas de Roberto Carlos, certa vez me explicou que nem todas as músicas do "rei" eram, na opinião dela, de fato boas, mas mesmo as de menor qualidade eram para ela especiais, pois tinham a capacidade de a transportar imediatamente às inúmeras lembranças de seu passado, que de alguma forma sua mente tinha associado àquela determinada canção...

Dia desses um amigo me disse, que às vezes não conseguia entender a "unanimidade" em torno de tudo que Chico produz. Eu na verdade nem creio que tal unanimidade exista de fato, nem que ele seja assim tão imaculado artística e esteticamente. Reconheço ainda que já faz um bom tempo que ele não compõe músicas extraordinárias, como as que fizera outrora.
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Ontem, assistindo à microssérie Amor em 4 atos, baseada na obra musical de Chico Buarque, fiquei cá imaginando, quantas outras ricas histórias não poderiam ser inspiradas em suas composições, estas renderiam um seriado com um bom número de temporadas. As canções de Chico têm algo de especial, algo que me toca, mas que até então eu não sabia explicar...
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O último capítulo da microssérie acabou deixando um gostinho de quero mais, desliguei a TV e tentei dormir, mas as canções continuavam em minha mente. Num êxtase musical construção, valsinha, samba de orly, vitrines e tantas outras dissonavam em minha cabeça, foi em meio a esta serenata de pensamentos que consegui compreender, ao menos em parte, onde é que reside a genialidade do Chico Buarque cantor.
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Minha mãe, como eu havia dito, se emociona quando as canções de Roberto Carlos trazem de volta à sua memória reminiscências de seu passado e doces lembranças de sua juventude. Chico, no entanto consegue me emocionar com memórias que não são minhas e com histórias que não vivi.

Lembro que quando conheci o Legião Urbana, um das primeiras bandas que realmente gostei, me identifiquei muito com suas letras e isso despertou em mim uma atração pelo trabalho da banda, foi assim com muitas dos outros cantores e bandas que tocaram em meu CD player nos anos seguintes. Porém com Chico foi diferente, ele conseguiu despertar em mim, algo que não vinha de minha vivência nem de minhas experiências anteriores.

Analisando, me parece que talvez exista um espécie de relação de empatia entre o Chico como artista, os personagens de suas composições e quem as escuta. Outros artistas tentam reproduzir tal fenômeno na música, mas o ciclo na maioria das vezes se mostra incompleto. Despertar tal sentimento de empatia e até mesmo de compaixão não é fácil e Chico o fez com tamanha naturalidade, ele como nenhum outro artista conseguiu compreender tão bem a alma feminina, a realidade dos amantes, dos boêmios, dos socialmente excluídos e de tantos outros grupos. É ele, na minha opinião, o artista que melhor expressou a consciência coletiva da sociedade em alguns dos períodos mais marcantes de nossa história.
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Minha mãe com certeza não concordaria, mas acho que, no tocante à música, deveria ser de Chico Buarque a alcunha de "rei".

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pedro Bial e a dança da manivela


Sabe uma daquelas terríveis situações em que, diante de pessoas que você não conhece, um erro, um deslize, ou uma gafe, lhe deixa de calças curtas e quanto mais você tenta consertar a situação mais você vai se complicando? Agora imagina um destes "acasos" diante de uma câmera em um programa ao vivo, com o terrível agravante de que, ao que parece, todo o enredo do programa não passa de um blá blá blá pré determinado, tudo previamente ensaiado para que se obtenha os efeitos esperados do espetáculo.
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Pois é, foi mais ou menos assim a uruca que abateu sobre a edição de ontem do Big Brother Brasil, ansioso pra ver o terceiro episódio da microsérie "amor em 4 atos", me prestei a assistir a última parte do famigerado programa conduzido pelo jornalista Pedro Bial. Aconteceria, nesta que seria até então a ultima parte do programa, a prova que definiria o líder da semana. Divididos em duas equipes os participantes tinham que passar de um lado ao outro de uma plataforma pendurados em uma peça, similar a uma garrafa de refrigerantes, tocada por uma manivela. Tirando o bigodinho a la "malandragem de outros carnavais" do apresentador, tudo parecia estar acontecendo dentro dos conformes.
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De repente um participante de uma das equipes vocifera: "tá quebrado aqui oh!". Mesmo com uma das equipes paradas a prova continua por alguns instantes. De repente corta a cena para a exibição da imagem de Bial com cara de "o que eu falo agora?", sem saber muito o que falar Bial apenas diz "vamos para um breve intervalo comercial". O intervalo não vem, Bial ri sem graça, ajeita o ponto, faz com a mão o sinal de "corta" no estilo Jô Soares e nada. A imagem vai então escurecendo lentamente até aparecer o logo da globo ao lado do logo do programa.
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Após alguns instantes voltamos para a casa do BBB, a prova foi interrompida e os participantes já estão reunidos na sala da casa, o apresentador está visivelmente impaciente, ele gagueja ao tentar explicar que uma manivela quebrou, pede desculpas e diz que dentro de 10 minutos a prova recomeça, neste meio tempo ele tenta emendar algumas piadas que não funcionam. No afã de ver o tempo passar ele erra o nome de um dos rapazes e a quantidade de dias que os brothers estão confinados. Percebendo a saia justa de Bial alguns participantes até tentam ajudar, um deles cantou um axé, "ih é paredão, ih é paredão, o Bial fala um bocado e acelera o coração" e outro improvisou um rap, mas nada funcionou o espetáculo já estava desfeito.
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Fomos para mais um intervalo comercial, na volta a prova recomeçou, percebendo que já está com seu tempo mais que estourado Bial tem pressa. Ele fica ainda mais impaciente quando precisa repetir diversas vezes as regras da prova. Tentando se precaver ele cria mais uma regra: "se uma das manivelas quebrarem de novo a outra equipe ganha!". Os participantes já demonstram compartilhar do mesmo nível de estresse do apresentador. Um deles brada repetidamente: "Chuta essa porra, caralho!". A manivela ainda quebraria mais uma vez, mas sem mais interrupções.
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Realmente ver a toda poderosa Rede Globo (bendita sois vós entre as melhores) sem saber lidar com os acasos não tem preço! Definitivamente Pedro Bial não exibirá seu sorriso amarelo quando lhe perguntarem se da dança da manivela ele gostou. Fiasco com sabor de guaraná antártica!
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