N° de acessos:

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey) - 2012. Dirigido por Peter Jackson. Escrito por Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens e Guillermo del Toro,  baseado na obra de J.R.R. Tolkien. Direção de Fotografia de Andrew Lesnie. Música Original de Howard Shore. Produzido por Peter Jackson, Carolynne Cunningham, Fran Walsh e Zane Weiner. New Line Cinema e Metro-Goldwyn-Mayer / USA | Nova Zelândia. 


Antes de qualquer outra consideração, creio que seja necessário deixar claro que O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012) é um caça níquel! Não que a obra de J.R.R. Tolkien que o originou não merecesse uma adaptação, todavia, as pretensões deste novo trabalho de Peter Jackson ficam evidentes no momento em que descobrimos que ele é apenas o primeiro de uma nova trilogia. O fato de ele ser um caça níquel, no entanto, não implica que seja necessariamente um filme ruim, o que de fato ele não é. O curioso é que boa parte dos problemas que o afetam não estão em sua criação como obra cinematográfica, mas em aspectos que são anteriores à ela, como por exemplo o fato de já sabermos de antemão o destino de alguns dos personagens principais, o que acaba diminuindo o suspense e consequentemente o nível de interesse pelo desenvolvimento da trama. 

Muitos críticos apontaram as variações no ritmo como um grave problema, mas eu não vejo de tal forma. O andamento da história é lento, mas isso aconteceu também em O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (2001), o primeiro filme da trilogia já clássica. Se há algo que afeta o filme, principalmente em seus primeiros atos, ele não é o ritmo, mas a falta de conteúdo dramático. Um tempo relativamente grande é gasto com a apresentação dos personagens e ainda assim eles permanecem carentes de uma maior profundidade, o que deixa evidentes os problemas no processo de construção de cada um deles. Este é um claro resultado da proposta de alongar ao máximo à trama para assim justificar a realização de mais dois filmes, por conta disso, personagens que eram meros coadjuvantes, ganham um maior destaque, porém, sem serem revestidos de uma complexidade, que possa justificar a evidência que ganham na história.


Talvez seja um erro estabelecer qualquer comparação entre O Hobbit e a trilogia de O Senhor dos Anéis, contudo, não me furtarei o direito de fazê-la neste que considero um dos pontos cruciais para se entender o porquê deste último filme não ter sido tão bem recebido quanto foram os outros: a carência de profundidade dramática nas relações entre os personagens. Quando escrevi a resenha da trilogia destaquei este como um de seus melhores aspectos, em cada um dos filmes pode-se notar que as maiores batalhas não eram aquelas que os personagens travavam contra seus inimigos, mas as que travavam contra si mesmos. A ausência de maniqueísmos e o humanismo presente na composição de cada um deles (mesmo na daqueles que não eram humanos) evocavam um série de representações e significações, que tornava cada um deles potenciais objetos para reflexão sobre temas sérios e complexos. 


Já em O Hobbit este foco está presente, porém um pouco embaçado, os personagens e seus feitos não são capazes de fomentar grandes discussões e em diversas passagens a complexidade sede lugar ao maniqueísmo, deixando evidente que boa parte da profundidade dramática fora de fato perdida. Mas, apesar desta notável perda de qualidade no tocante à trama, o filme ainda funciona bem como entretenimento, principalmente se evitarmos, durante a sessão, as comparações que fiz acima. Não tenho dúvidas de que ele seja bem sucedido como um filme de aventuras, o que fica comprovado pelas cenas de ação bem construídas e por sua capacidade de tornar interessante uma trama que, dada sua condição, já nasceu previsível.


O Hobbit ao qual o título do filme se refere é o Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) (para quem não se lembra ele é o tio do Frodo, um dos protagonista de O Senhor dos Anéis), ele é um jovem medroso e acomodado que nunca saiu do condado onde mora, isso  até o dia em que ele é surpreendido pela visita do mago Gandalf (Ian McKellen), que o convida para uma arriscada aventura... Em um passado não muito distante, o reino dos anões fora invadido e dominado por Smaug, um dragão de fogo que se apossou da cidade sede e de todo o seu tesouro. O tempo passa e Thorin (Richard Armitage), príncipe dos anões, reúne alguns guerreiros de seu povo para tentar retomar o reino que fora tirado de seu avô no passado, para tal ele conta ainda com o  apoio de Gandalf, que acompanha o grupo em sua arriscada jornada. O pequeno Bilbo fora o escolhido pelo mago para uma difícil tarefa e sua suposta fragilidade desperta a desconfiança de Thorin e de seus aliados.


Esta sinopse, apesar de não ter spoilers, é o suficiente para nos colocar à par de tudo o que acontecerá durante o filme, inclusive de suas reviravoltas, tudo é muito previsível e, obviamente, isso prejudica o filme.  Para compensar a superficialidade da trama, Peter Jackson aposta nas firulas técnicas (não por acaso, boa parte da publicidade do filme se concentrou no uso da captura com 48 frames por segundo). O excesso de efeitos visuais, ao qual o filme recorre, produz algumas cenas que são, ao meu ver, completamente dispensáveis, mas há que se reconhecer que a reconstrução visual da Terra Média feita aqui é praticamente impecável, o que denota uma significativa evolução tecnológica quando em comparação com os três filmes anteriores, o que é natural, uma vez que quase 10 anos se passaram desde o lançamento de O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei, o último da primeira trilogia.


Longe de ser um filme ruim ou descartável, O Hobbit é capaz de nos proporcionar bons momentos de diversão. Acredito que a impressão final que temos dele está diretamente ligada às expectativas que criamos. Se esperarmos dele algo à altura de seus antecessores certamente ele nos decepcionará, mas se analisarmos seus próprios atributos sem usar a comparação como condicionante seremos capazes de reconhecer cada um de seus aspectos positivos, que apesar de não o tornarem um dos melhores filmes do ano, fazem ao menos com que o saldo de sua longa duração seja no fim das contas bastante positivo. 


O Hobbit: Uma Jornada Inesperada foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção de Arte, Maquiagem e Figurinos e Efeitos Visuais.

Assistam ao trailer de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada no You Tube, clique AQUI ! 

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

Confiram também aqui no Sublime Irrealidade a crítica da trilogia de

6 comentários:

  1. J. Bruno,

    Excelente! Acho que foi uma das análises de O Hobbit mais aprofundadas (e sem medo de comparar com O Senhor dos Anéis) que já li. Todas as outras em geral estão muito 8 ou 80... Ou a pessoa é fanboy da série e defende com unhas e dentes, ou então ataca até dizer chega sem ver um ponto positivo sequer...

    Parabéns pelo texto e pelo blog! :)

    ResponderExcluir
  2. Perfeito.....caça níquel, pois apesar do filme não ser ruim, não era realmente necessário. Não depois de O Senhor dos Anéis.

    Adorei sua visão.

    ResponderExcluir
  3. Oi Brunão!

    Rapaz, eu não gosto de filmes assim! Vc pode até me xingar aí, mas eu não gostei de Senhor dos anéis, e nem de nenhum Harry Porter. Não gostei do Contos de Narnya e coisas desse tipo!
    Acho que sou bobão!
    Mas a sua resenha como sempre está muito boa! Parabens!

    ResponderExcluir
  4. Gosto do gênero, mas estou longe de ser um aficionado. Gostei tanto da trilogia de "Senhor dos Anéis" quanto aprovo "O Hobbit", porém julgo também não ser um filme para todos os públicos. Fantasia é uma temática delicada, e principalmente, erguida a partir de um sucesso literário. Para mim os pontos fortes moram na orquestração da estrutura técnica propriamente (fotografia, figurino, trilha sonora, efeitos) do que no lirismo sobre o enredo. Trata-se de um trabalho que desperta certa magia, mas que infelizmente não me encanta tanto quanto gostaria.

    abraço Bruno

    marcelokeiser.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  5. Gostei bastante da critica, que alias vc usou da comparação das trilogias com muita delicadeza, até porque comparar uma com a outra não tem sentido se levar em conta todo o contexto.

    Eu assisti 3 vezes o filme e na sua estrutura de arte ele é impecável, bem como muito dos filmes da Peter mais de fato eu não consegui também gostar de todos os personagens.

    ResponderExcluir
  6. Grande Bruno, como vai? Mais uma vez um ótimo texto!
    Concordo com você em diversos pontos, principalmente sobre a construção dessa trilogia em cima de uma única história, o que de fato só comprova o interesse comercial dos produtores, mas enfim...valeu a pena pois o filme deu conta do recado, agora é esperar até o final desse ano para comprovar a sequencia...

    Abração

    ResponderExcluir