O Escritor Fantasma (The Ghost Writer) - 2010. Dirigido por Roman Polanski. Escrito por Roman Polanski e Robert Harris, baseado na obra de Robert Harris. Direção de Fotografia de Pawel Edelman. Música Original de Alexandre Desplat . Produzido por Roman Polanski, Robert Benmussa e Alain Sarde. R.P. Productions, France 2 Cinéma, Elfte Babelsberg Film e Runteam / França | Alemanha | UK.
Neste suspense político de Roman Polanski, Ewan McGregor vive um escritor visivelmente frustrado que ganha a vida como Ghost Writer (escritor fantasma) - profissional contratado para escrever obras, geralmente memórias, cuja autoria será atribuída à uma outra pessoa. De acordo com o que o roteiro nos mostra, ele chegou a ter pretensões de ser reconhecido como um autor sério, no entanto acabou se tornando 'fantasma' por esta ser uma forma presumidamente mais fácil de ganhar a vida. Ele sabe que este é um ofício no qual não há glamour ou reconhecimento, pois após concluir uma obra ele simplesmente desaparece para que o suposto autor possa ganhar os louros em seu lugar. A trama do filme começa a se desenrolar quando ele recebe uma proposta desafiadora de seu empresário, que lhe indicara para aquele que poderia ser o trabalho mais rentável de sua carreira: Ser o escritor fantasma que redigiria a memória de um ex-ministro do Reino Unido, Adam Lang (Pierce Brosnan), um homem influente, poderoso e que tivera grande apoio popular quando eleito pelo Parlamento.
O escritor, cujo nome não chega a ser mencionado no filme, já pega o trabalho pela metade, a 'autobiografia' já tinha sido iniciada por um ex-assessor de Adam Lang, que estivera ao lado dele durante boa parte de sua trajetória política. O posto ficara vago depois que o primeiro escritor fora encontrado morto em um praia, supostamente vítima de um afogamento acidental. Depois de ser aceito para o trabalho, o 'fantasma' é convidado a se mudar temporariamente da Inglaterra para os Estados Unidos, onde poderia dar continuidade à obra literária com a tranquilidade que lhe seria necessária. À princípio é estabelecido um prazo de trinta dias para que ele possa entregar o livro pronto para o editor, mas logo que ele dá início ao trabalho uma bomba estoura na mídia: O ex-ministro passa a ser acusado de ter cometido e acobertado crimes de guerra durante a invasão do Iraque.
Quando o escritor dá conta da furada na qual se meteu, ele já está atolado até o pescoço em um lamaçal de intrigas e de inverdades, onde nada é o que parece ser. Ele se expõe a um alto risco quando decide se enveredar pelo mesmo caminho que já tinha sido percorrido pelo Ghost Writer que o antecedera, o que fora encontrado morto na praia, nesta trilha investigativa ele descobre segredos que ameaçam os interesses de governos e de gente muito perigosa. É então que ele se vê diante de seu grande dilema na trama: Permanecer 'invisível' tal como um fantasma, ou superar sua passividade e se tornar assim um dos atores principais da história política que estava sendo escrita naquele momento...
As locações e a fotografia reforçam no filme o estado de espírito e o isolamento social do 'fantasma', a ilha onde ele se isola junto com o ex-ministro, a esposa dele, seus assessores e demais funcionários, funciona como uma metáfora da reclusão midiática que o indivíduo experimenta nesta que é chamada de era da comunicação, ele tem um aparato de mídia em suas mãos, mas continua ainda assim incapaz de formatar sua própria versão da história, neste contexto as aparências se tornam ainda mais perigosas e enganadoras. Por estar geograficamente distante do resto do mundo, o escritor se distancia também dos acontecimentos que terminariam por lhe afetar, ele acompanha as notícias pela TV, até que sem querer ele se torna parte delas, é só então que ele acorda e toma consciência de sua capacidade de deixar de ser apenas um reprodutor da versão alheia dos fatos para se tornar o protagonista deles. Não é atoa que no filme o escritor precisa sair da ilha para descobrir algo que estava debaixo de seus olhos o tempo todo...
Durante todo o desenvolver da trama tive a boa impressão de que O Escritor Fantasma não é uma daquelas obras que subestimam nossa inteligência e que acabam se perdendo no excesso de preocupação em entregar a nós espectadores uma trama mastigada e de fácil assimilação, muito pelo contrário, afinal para que se possa apreciar o filme em sua totalidade é necessário um tanto a mais de atenção e uma noção mínima de atualidades; tendo-se isso, fica fácil perceber o quanto ele funciona como uma contundente crítica à política externa de algumas potências mundiais e à passividade da sociedade diante delas... Simplesmente não tem como não associar a figura de Adam Lang, um personagem fictício, à de Tony Blair, o premier que decidiu junto com George W. Bush atacar o Iraque em 2003. Não por acaso, Lang, assim como Blair, é membro do Labour, o Partido Trabalhista Inglês e também possui estreitas relações com o governo americano.
O Escritor Fantasma retrata de uma forma muito interessante a sociedade de aparências na qual vivemos, seu roteiro mostra o quanto a verdade pode ser volátil, variando de acordo com o ponto de vista que se tem como referência, neste contexto a história documentada nem sempre condiz com a realidade, mas sempre com os interesses de quem a conta. Na trama, a postura, na maior parte do tempo passiva, do personagem central lembra a nossa própria condição diante dos fatos que nos cerca e é neste ponto que se encontra aquela que talvez seja a maior dentre as críticas que o roteiro faz a nós como sociedade; tal como o 'fantasma', somos invisíveis e inconscientes de nossa capacidade de assumir a condição de atores de nossa própria história, nos tornamos desta forma condizentes com uma 'verdade' que não é real, apenas aparente.
O filme possui boas atuações, praticamente todo o elenco está relativamente bem, no entanto, fica evidente que o que o torna uma grande obra é direção de Roman Polanski e o roteiro coescrito por ele e por Robert Harris (o autor do romance que do qual ele fora adaptado). O suspense desenvolvido no filme progride lentamente, ele vai se desenvolvendo à medida que vamos descobrindo os segredos que alguns dos personagens guardam. A tensão dramática é atenuada pela ótima trilha sonora de Alexandre Desplat, que nos remete em diversos momentos ao estilo de Bernard Herrmann, colaborador contumaz de Alfred Hitchcock, o destaque no tocante à trilha sonora fica por conta da música que toca durante a cena final do filme, que lembra a dos créditos de abertura de Deus da Carnificina (2011), a música torna esta cena ainda mais forte e impactante...
Como eu já disse, O Escritor Fantasma se desenvolve de forma bem lenta, já nos seus primeiros minutos percebemos que não podemos esperar dele grandes cenas de ação e isto lhe confere um caráter mais realista, o que sem dúvidas é algo positivo tendo-se em vista a sua proposta. Todavia em alguns momentos ele perde o ritmo e sua lentidão deixa de ser atraente para se tornar um pouco cansativa, mas logo em seguida o suspense é retomado novamente e este não chega a ser um problema tão grave a ponto de comprometer o resultado final do filme. O fato é que O Escritor Fantasma não alcança o mesmo nível de qualidade de algumas das obras de Roman Polanski, que se tornaram verdadeiros clássicos, no entanto ele ainda é um ótimo filme e certamente será uma boa pedida, principalmente para quem curte um bom suspense político embotado de críticas sociais... Recomendo!
O Escritor Fantasma estreou no Festival de Berlin, onde ganhou o Urso de Prata de Melhor Direção e concorreu ao prêmio máximo do festival, o Urso de Ouro.
Confiram também aqui no Sublime Irrealidade a crítica de Deus da Carnificina (2011), o mais recente filme de Roman Polanski!
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,
Ainda conferi, assim como também "O Deus da Carnificina".
ResponderExcluirSão dois filmes de Polanski que estão na minha lista.
Abraço
Confira ambos Hugo, vale muito a pena!
ExcluirGosto muito do Ewan... Polanski merece ser visto e revisto!!
ResponderExcluirVai para minha listinha de filmes à serem assistidos, Bruninho...
Tbem estava com saudades de blogar... sumi, mas agora estou de volta(espero que com tudo!)... rsrsrs
Obrigada, pelos votos de melhoras ao maridão(na penúltima postagem)...
bjks JoicySorciere => CLIQUE => Blog Umas e outras...
Você vai gostar deste Joicy, é um ótimo filme!
ExcluirÀs vezes é preciso mesmo diminuir o ritmo, mas continue sempre postando, eu adoro receber seus comentários aqui!
Este filme foi uma grande influência para mim. No início de meu blogue, eu era totalmente anônimo e adotei o pseudônimo de Ghost Writer (isto pode ser visto nos primeiros posts) e até cheguei a pensar em ser realmente um Ghost Writer, porém, pensei que se um livro (por utopia) que eu escrevesse se tornasse um best seller, o que eu ganharia seria uma miséria diante do autor que me contratara. Enfim... viagem total! ahah.
ResponderExcluirMas o filme é altamente recomendável.
Que legal que de alguma forma o filme tenha sido importante pra ti Christian, ele, como eu disse no texto, não é um dos meus favoritos do Polanski, mas sem dúvidas é um filmaço!
ExcluirAdoro este filme, e principalmente a atmosfera de Hitchcock que ele cria. Parabéns pela crítica! Abraço.
ResponderExcluirObrigado Matheus, ele é de fato um excelente suspense!
ExcluirOi Bruno,
ResponderExcluirOs filmes de Roman Polanski são sempre interessantes. O Mateus me lembra que assistiu esse filme, mas não me lembro.A sua crítica apresenta uma descrição da máscara que assumiu o escritor fantasma. Penso que nem sempre é possível desfazer quando existe a confusão de identidades. Vou rever para colocar os meus comentários.
Bom final de semana!
Lu
Ele é muito Luciana, principalmente por isso eu acho que talvez você não o tenha assistido mesmo, pois acho que se tivesse você se lembraria, até porquê a última cena dele permanece por um bom tempo em nossa memória...
ExcluirNem acho tão inferior comparado à outras obras do Polanski (e olha que já vi quase toda sua filmografia), é um ótimo filme de um diretor em boa forma (mesmo saindo de um baque emocional tremendo). Desde a fotografia soturna, até a trilha tensa e a direção maravilhosa do Polanski, O Escritor Fantasma é um excelente filme, que merecia atenção em diversas categorias do Oscar - e entre o público no geral, que o descartou. E o que dizer daquele final? Meu deus...
ResponderExcluirGostei muito do filme Júlio e concordo que ele merecia mais atenção nas premiações, contudo eu ainda o considero bem menos importante que outros filmes do Polanski, que estão entre meus favoritos dele...
ExcluirAcho q caberia em um TOP 5 pessoal do Polanski. Gosto muito dessa obra. As semelhanças com Hitchcock são otimas e gosto dos momentos lentos, que remetem a um cinema mais de arte. Claro que Lang é Blair...hehehe
ResponderExcluirAbração.
Sem dúvidas Lang é Blair rsrsrs
ExcluirNão sei se colocaria ele no meu Top 5, na verdade seria uma disputa entre "O Pianista" e ele pelo 5° lugar, e eu ainda fico com "O Pianista"...
Grande Bruno, pelo roteiro o filme vale à pena ser conferido, vi poucos filmes do Polanski, e é um diretor bem conceituado por todos. Valeu pela dica, vou ver se assisto online pra conferir.
ResponderExcluirAbração pra ti.
www.paulocheng.com
Confira sim Paulo!!!
ExcluirPor ter esta característica mais lenta acaba não sendo um "filme para todos", o que é uma pena. É uma película muito inteligente - especialmente em seu roteiro, como vc mesmo disse. Faz analisar além do visto, mas, para o vivenciado no hoje. Ótima pedida!
ResponderExcluir;D
Pois é Karla, uma pena que nem todos se disponham a mergulhar na contemplação reflexiva que ele propõe, pois este é o seu maior atrativo... Sem dúvidas é uma ótima pedida!
ExcluirOlá amigo, não assisti, mas pelo que contou é o tipo de filme que meu marido vai gostar, valeu a dica e parabéns pela riqueza de detalhes e os olhares de observação! Abraçoooss
ResponderExcluirRecadinho aos amigos:
A partir de amanhã meu blog sairá do ar por 2 ou 3 dias p repaginada, não será possível fazer visitas nesse período! volto no fim da semana! Abraçosss
Adorei o novo visual do blog Kellen, deixei um comentário sobre ele lá na sua página!
Excluir"O Escritor Fantasma" é ótimo, será uma boa pedida para assistir junto com o marido!
Loooooooooouca pra ver esse filme.
ResponderExcluirUm dos muitos que não listei e acabei esquecendo de providenciar.
OBrigada, Brunão. ^^
Belo texto, como sempre.
Beijo
Cléo - Acesse o blog Vejo Por Aí... Onde o útil, o fútil e o inútil se encontram.
O brigado Cleo!
ExcluirO filme é ótimo, assista ele e me diga depois o que achou!
Beijo!
Filmaço de prender atenção do inicio ao fim, como um bom filme de suspense deve ser.
ResponderExcluirSem dúvidas!
ExcluirAno passado, vi o filme no canal de tv a cabo Telecine Premium, e achei um bom filme de suspense. Como você disse não é o melhor trabalho de Roman Polanski, mas sem dúvidas não deixa de ser um bom filme de suspense.
ResponderExcluirÓtima Crítica!
Obrigado Mateus! Ele é um ótimo filme, disso não tenho dúvidas, mas ao meu ver ele não alcança mesmo ao obras-primas do diretor...
ExcluirOlá, José Bruno.
ResponderExcluirTambém considero Polanski um diretor cujos trabalhos merecem ser assistidos com atenção.
Esse é mais um filme que tentarei ver.
Abraço, José Bruno.
Assista sim Jacques e depois comente comigo o que você achou, estou certo de que você irá gostar!
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