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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Crimes e Pecados

Crimes e Pecados (Crimes and Misdemeanors) 1989, escrito e dirigido por Woody Allen, e produzido por Jack Rollins & Charles H. Joffe. MGM/ EUA


"Meu coração diz uma coisa, a cabeça outra, muito difícil fazer os dois se entenderem...", com estas palavras Judah Rosenthal (Martin Landau), um oftalmologista de formação judia, tenta explicar a situação que o levou a cometer um grave crime. Envolto em uma situação em que uma série de iniquidades o levou a pecados cada vez maiores, o personagem de Crimes e Pecados (1989) se atormenta com o peso da culpa e do arrependimento. Na tentativa de se justificar o personagem descreve o principal tipo psicológico que Woody Allen escolheu para compor suas tramas. São pessoas com grande sensibilidade artística, bem sucedidas, mas que não conseguem conciliar suas emoções e a razão.

João Gabriel de Lima, em matéria publica na edição de número 135 da revista Bravo, intitulada "Mergulho a mente do artista", ressalta: "Esses personagens que passaram a povoar os filmes do diretor a partir de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) e Manhattan (1979) serviram a uma finalidade dramática recorrente: mostrar como pessoas com muita sensibilidade e alto QI podiam se portar de maneira patética ou mesmo bizarra na hora de lidar com as próprias emoções".

 

Allen parece compreende-los como ninguém, e transita com maestria pelos medos, dúvidas e frustrações desta fauna repleta de artistas, intelectuais e gente envolvida com a cultura. A criação a partir de tal tipo de personagem seria recorrente nas suas melhores obras, sem se tornar repetitiva. Woody se tornou uma espécie de estudioso desta fatia da sociedade americana, sendo muitas vezes um, sutil e ao mesmo tempo feroz, crítico dela através de suas comédias de costumes.

O cineasta que completou 75 anos em 01 de dezembro de 2010, até hoje não é muito bem visto nos EUA. Na década de 90 ele se envolveu num "escândalo", quando se casou com Soon Yi Previn, filha adotiva de Mia Farrow sua ex-esposa. Muitos de seus personagens são inspirados em sua própria vida, como contou ao jornalista Eric Lax, em entrevista publicada no livro Conversas com Woody Allen, e se tornam uma espécie de porta-vozes de seus pensamentos nos filmes. O gosto pelos seus filmes continua relativamente restrito não atingindo o grande público, que possui pouca identificação com seus personagens ou que não se sentem bem vendo suas próprias debilidades sendo representadas.

 

Em Crimes e Pecados a trama se desenvolve em torno de duas histórias paralelas: a de Judah Rosenthal, que vê seu casamento e sua vida social ameaçados quando a sua amante Dolores Paley (Anjelica Huston) decide abrir o jogo sobre o "caso" e contar tudo para a esposa dele; e a de Cliff Stern (Woody Allen), um produtor de documentários, sem sucesso profissional, que se apaixona por Halley Reed (Mia Farrow), um produtora de um programa de televisão, mas esta prefere Lester (Alan Alda), este um produtor bem sucedido, cunhado de Cliff. Apenas no final as duas histórias se encontram e numa espécie de anagnorisis aristotélica os dois personagens conversam sobre os pecados da vida real e como são mostrados no cinema.

O personagem Cliff merece atenção especial. Ele uma espécie de alter ego do diretor, é uma materialização da critica que Woody faz ao cinema e si mesmo. Cliff é um apaixonado por cinema, leva a sobrinha todas as tardes a uma matinê, e espera com isso estar colaborando com a formação cultural da menina, ele se empenha com seu trabalho e se indigna ao entender que precisa se vender para conseguir dinheiro para custear suas próprias produções e ao ver que seu cunhado, alguém que ele não julga não ter grande talento artístico, ser um profissional admirado e bem sucedido.

 

Como em grande parte da obra de Woody as referências à arte e a cultura estão presentes em Crimes e Pecados, tais referências vão desde a nítida influência da obra Crime e Castigo, de Dostoievsky, um clássico da literatura russa, a elementos da tradição judaica (influencia da própria formação do diretor), passando pela música clássica e jazz que estão presentes na trilha sonora.
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A critica especializada considera Crimes e Pecados, uma das obras primas da fase áurea do diretor e não é para menos, neste filme estão todos os elementos que o consagraram como diretor. Altamente recomendado, principalmente para quem um parafuso a mais e não tem preguiça de pensar diante da tela.


Crimes e Pecados foi indicado aos Oscars de melhor diretor (Woody Allen), Melhor ator coadjuvante (Martin Landau), e melhor roteiro original (Woody Allen).

De Woody Allen, indico também: Vicky Cristina Barcelona (2008), Interiores (1978), Hanna e Suas Irmãs (1986), Match Point (2005), Manhattan (1979), Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) e A Era do Rádio (1987).
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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Os Imorais

Os Imorais (The Grifters) 1990, dirigido por Stephen Frears, escrito por Donald E. Westlake e produzido por Martin Scorsese. EUA.

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Adaptado da obra do autor Jim Thompson, o filme uma espécie de noir moderno, passeia pelo submundo de mafiosos, trapaceiros e mulheres fatais, cenário que rendeu clássicos absolutos do cinema desde os primórdios de Hollywood. As atuações são quase impecáveis, justificando as indicações ao oscar de melhor atriz (Anjelica Huston) e melhor atriz coadjuvante (Annette Bening). Stephen Frears, o diretor também estava no que seria até então um de seus melhores momentos. Ligações Perigosas (1988), seu longa anterior havia sido indicado a sete Oscars, dos quais arrematou três. Com Os Imorais, o cineasta inglês seria indicado ao Oscar de melhor diretor em 1991, prêmio que perdeu para Kevim Kostner que dirigiu Dança com Lobos.


O filme ainda concorreu ao Oscar de melhor roteiro adaptado, indicação que na minha opinião seria um tanto exagerada, uma vez que apesar de o filme funcionar bem como um drama policial/psicológico, ele é dentro do que se propõe um tanto primitivo. Roy Dillon (John Cusack) o personagem principal, um trapaceiro que ganha a vida com pequenos golpes, apesar de ter as mãos sujas, não parece tão contaminado com a imoralidade, (em determinados momentos o roteiro sugere um relação incestuosa entre o personagem e sua mãe, no entanto o contexto em que se dá a relação, esta pode ser melhor interpretada como abuso sexual).


Apesar de tudo que acontece a sua volta e de sua relação com sua mãe, Roy parece não possuir "cicatrizes" , sequelas ou crises de consciência e sua postura de se manter como pequeno trapaceiro, ao invés de se ingressar no crime organizado, é quase inocente. Sua namorada Myra Langtre, apesar da ótima interpretação de Annette Bening, é outro personagem que parece não estar bem definido historicamente na trama, é outra que escapa ilesa demais, se é que me entendem, de seu passado obscuro.


No fim das contas, pode se concluir que o filme é bom, principalmente se comparado a uma série de filmes que tentam recriar o mesmo estilo nos dias de hoje, mas não é nenhum clássico absoluto e a alcunha de cult que atribuem a ele não se justifica. Se você procura um bom filme com ótimo elenco e boa produção ai está a dica, agora se você busca uma obra prima, o produtor de Os Imorais, tem a resposta, Martin Scorsese dirigiu no mesmo ano um dos clássicos do gênero drama policial: Os Bons Companheiros.


Assista ao trailer de Os Imorais no You Tube, clique AQUI !

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Desabilitado

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Hoje foi oficialmente o primeiro dia de suas férias, acordou tarde e mesmo com um pouco de desânimo, causado pelo intenso calor, foi ao centro da cidade. Já tinha alguns meses que tinha planejado de tentar mais uma vez a prova de direção na auto-escola. Apesar de já ter refletido inúmeras vezes sobre o assunto, ainda teve dúvidas na hora de agendar o teste e marcar novas aulas. A expectativa já era bem inferior que a inicial, quando começou sua odisséia a cerca de nove meses. Já nem sabia se queria um carro, nem mais o que fazer quando já estivesse de posse de sua habilitação. As provas práticas ainda lhe causavam um certo arrepio e definitivamente não queria ter que reviver o trauma de sua última tentativa. No entanto a proximidade do vencimento de sua pauta, e uma certa pressão social o fez tomar um decisão, ainda insegura, de ao menos tentar mais uma vez.
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sábado, 8 de janeiro de 2011

Sentença de morte à cultura e à arte

Hoje assistindo a um telejornal, uma notícia me comeveu... Não foram os acidentes nas estradas, nem os estragos causados pelas chuvas. Era apenas mais uma das sentenças de morte que a minha geração tem dado a cada dia à arte e à cultura. A notícia em questão não seria para muitos uma tragédia, ou motivo de comoção. Se tratava do fechamento de um cinema multi-plex e de uma loja de CD´s. Nem mesmo saberia explicar ao certo porque a matéria mexeu comigo. Nunca visitei nenhum dos pontos e nem sequer estive nas cidades onde estão localizados...
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O que talvez me tenha tocado, seja apenas a idéia de que simbolicamente os acontecimentos nos tornam um pouco mais pobres culturalmente. Já tem um tempo que a troca de arquivos pela internet tem abatido a indústria fonográfica no tocante às vendas de CD´s, isto por si só é um fato positivo, uma vez que mostra a subversão de uma cadeia de lucro por um sistema anárquico de compartilhamento. Porém a facilidade que os programas de downloads e uploads dão ao usuário de aquirir e conhecer novos artistas e bandas, colocam à sua disposição uma quantidade muito grande informação que ele não consegue processar. Nos tornamos com isso consumidores ávidos por instantaneidade, velocidade e por tudo que o efêmero representa...
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Se torna desta forma, cada vez mais distante a época em que determinado disco marcava uma determinada fase de nossas vidas, e a nossa relação com a música como expressão de arte de dava de uma forma bem diferente. Aconteceu diversas vezes comigo, em princípios de 2001, eu conheci a banda que mudaria os rumos de minha adolescência e consequentemente de minha vida, era o Ramones, o CD em questão, uma coletânea com 26 faixas, rodou praticamente todos os dias em meu CD player até que eu conseguisse outros discos da banda
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Ao contrário do que aconteceu com a música, o cinema, não esteve tão presente em minha infância e adolescência; fui me tornar um cinéfilo um pouco mais tarde, não que eu não assistisse filmes, mas posso contar nos dedos quantas vezes assisti uma película projetada numa telona até os meus 15 anos. Já era um pouco tarde que nasceu em mim uma verdadeira paixão, o cinema de minha cidade (Ubá) teria não muito tempo pela frente. Seu fechamento foi na minha opinião, uma das maiores perdas desta cidade, ainda provinciana em termos de cultura, nos últimos tempos.
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Tal como tem acontecido com a indústria fonográfica, o cinema tem sido afetado pelas novas tecnologias de comunicação, as salas estão cada vez mais vazias, com raras exceções, como o caso de Tropa de Elite 2 - o inimigo agora é outro, de José Padilha, que vem batendo recordes de bilheteria e exibição. Em algumas situações bem antes de estrear nas salas de cinema um filme já pode ser baixado na net, tal como aconteceu com o primeiro longa de seuqência Tropa de Elite.
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Se por um lado vejo o compartilhamento de arquivos pela internet como algo extremamente positivo no que se refere à democratização de acesso à arte e ao desmantelamento das teias da industria cultural, por outro penso que a facilidade no acesso tem prejudicado a relação indivíduo/arte/artista. Para muitos o cinema perde importância e é trocado pela sala de casa ou pelo quarto solitário do computador, lugares onde a magia da sétima arte definitivamente não se reproduz da mesma forma.
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Voltando à noticia do telejornal, talvez agora eu compreenda que talvez tenha sido uma espécie de medo, aquilo que senti diante da televisão. Minha geração não está se preocupando em preservar aqueles que talvez sejam alguns dos bens históricos das gerações anteriores, repudiamos tudo o que tem profundidade estética e tudo que possui significado além do aparente. E cada vez menos conseguimos compreender, que mais vale vale como vivência 2 horas em um cinema que um mês em uma academia, e que música pode ser, como arte, muito mais que entretenimento.
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Sinto por não ter feito parte da geração viu Felline, Godard, Hichcock, Bergman e otros clássicos no cinema... talvez a geração posterior a minha não venha a conhecer nem sequer Hollywood pelas telonas, e isto é triste, muito triste...


- Abaixo assinado on-line pelo não fechamento do Cinema Belas Artes

- Matéria sobre o fechamento da loja de CD`s Modern Sound
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sábado, 4 de dezembro de 2010

Anomia


Foi difícil tomar a decisão de não ter mais que acreditar, e de eliminar cada uma das causas, pelas quais poderia valer a pena lutar. Esta foi a decisão que tomou em meados do segundo semestre do ano passado (2009). Seria para não mais sofrer. Aquele tinha sido um ano angustiante, foi frustrante no tocante a todos os seus projetos, sufocante em todos os compromissos de trabalho e estudos, sua auto-cobrança crescia e ele ainda se afundava em um sofrer que chamava de amor.
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À primeira vista a anomia lhe pareceu ser o posicionamento mais inteligente, talvez fosse, mas naquele momento não pode imaginar o que mudanças tão profundas em sua forma de interagir com as circunstâncias poderiam trazer consequências que lhe marcariam e que lhe trariam um novo modelo de aprendizado, um tanto menos dolorido que a frustração.
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O que estava por vir parecia ser uma nova fase caracterizada pelo anseio que brotava dentro de si, uma vontade enlouquecida de se divertir a qualquer custo, sem metas, sem rumos e sem nenhum objetivo final. Seria a partir de agora cada dia de uma vez. Mas teria ele coragem para viver em cada um de seus limites?
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Ele queria estar ao mesmo tempo nas ruas de Manhattam, em um café em Paris ou em qualquer outro lugar onde o fôlego lhe faltasse pelo fascínio da beleza estonteante do novo. No entanto continuava preso em sua vida medíocre, amargurado pelo tédio dos finais de semana ou pela rotina dos dias de trabalho.
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Os sonhos que descartou lhe furtaram a esperança, ele teve medo de assumir riscos e os custos do divertimento poderiam ser altos demais. Preferiu então se recolher dentro de seu casulo, alheio ao mundo, indiferente a tudo à sua volta. A falta de objetivos lhe trouxe uma paz descolorida, o que não lhe contentou, a apatia lhe submergiu em melancolia e poderia o levar a mais profunda depressão.
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Tal como o personagem Marcello Rubini em "A doce Vida", ele passou a transitar dentre o mundo que não era o seu e passou a preencher o seu vazio com a velocidade dos acontecimentos desconexos de seus dias, a rapidez não lhe permitia pensar e de certa forma isso lhe era favorável, pois lhe oferecia uma fuga abstrata para tudo o que existia de real em sua vida, realidade que talvez ele já não pudesse ou não tivesse coragem de mudar. Estava tudo morrendo.
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sábado, 25 de setembro de 2010

Um bom lugar pra ler um livro....




Uma nova marcha

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Uma quantidade significante de líderes religiosos se converteram, por ocasião das eleições, em conselheiros políticos, estão dizendo para seus rebanhos em quem não devem votar, com alegações de que determinado candidato defende ou não algo que seria contrario à sua teologia.
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Apesar de eu não ter nenhum apreço pela política partidária, ou por algum dos candidatos, tal fato tem me preocupado. O que está em jogo não são questões teológicas, são principalmente questões políticas e ideológicas, como distribuição de renda, reforma agrária, direitos de minorias, liberdade individual, entre outros. Ao contrário da igreja primitiva descrita em Atos, os membros da igreja de hoje não estão dispostos a perder seus privilégios e dividir seus bens com outros à medida que alguém tenha necessidade.
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Que um grande números destas instituições defendem posturas neo-liberais e o conservadorismo de direita não nos resta dúvidas, porém nos deixamos enveredar por estes discursos e assim deixamos de ter uma postura crítica com relação a tudo que está acontecendo, acreditando que tais "pregações" são de todo imparciais, ou até mesmo direcionadas por Deus.
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O mais assustador entretanto é que diante deste contexto as "igrejas" se posicionam até mesmo contra princípios bíblicos, basta conferir vídeos de pregações que circularam no You Tube nas últimas semanas, onde tais líderes aponta acusações sem nenhum ou com pouco teor de FATO e VERDADE. Romanos 1.28-32 mostra a postura bíblica sobre os caluniadores.
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Curiosamente, tal manifestação vinda de alguns setores da igreja católica em conjunto com denominações da igreja evangélica, me fez lembrar uma outra mobilização que aconteceu no nosso passado recente. Em 1964 a "Marcha da Família com Cristo pela Liberdade" reuniu cerca de 500 mil pessoas em passeata. Alienados a grande maioria dos participantes nem sabia contra o que realmente estavam se posicionando. Talvez, nos dias de hoje o desfecho seja diferente, mas as manifestações de 64 ajudaram abrir caminho para o que os militares chamaram de "revolução"... nós entretanto conhecemos como DITADURA...
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Bomba! Não me diguem em quem não devo votar!

Tenho recebido uma quantidade enorme de e-mail/scraps/mensagens dizendo pra votar ou não em fulano ou beltrano por que este é a favor de tal grupo ou idéia, ou este vai proibir ou liberar alguma tal atitude... Apesar do meu pouco apresso por política partidária, tenho chegado à conclusão de que realmente não estamos preparados para a democracia. Não conseguiremos viver como indivíduos livres enquanto não entendermos que a nossa verdade pode não ser a verdade do outro e que o bem social depende de que cada um possa ter o direito de viver sua "verdade" desde que esta não desrespeite leis ou prejudique o próximo...

Corremos o risco de eleger políticos autoritários e de tendencias fascistas, que ao invés de se preocuparem com problemas urgentes da sociedade, levantam bandeiras em torno de temas polêmicos e fazem lobbies na esperança de que isso garantirá sua vitória nas urnas....
O que está em jogo é muito mais que nossas opiniões pessoais sobre determinado assunto, temos problemas urgentes como desigualdade social, sistema de saúde, violência urbana, drogas e tantos outros.

A tal democracia que vivemos hoje está longe, muito longe, de ser um ideal de sociedade, porém foi fruto da resistência de pessoas que lutaram contra uma ditadura no passado, além de cometermos o grande erro de substituir a democracia participativa pela representativa ainda trilhamos a contramão de tudo que conquistamos como sociedade.

O nossa "povo heróico" parece sentir falta do cabresto da ditadura, só pode... Podemos estar certos e convictos de nossas ideologias, ou de nossas crenças religiosas, mas não é o Estado quem tem que dizer para aqueles que não compartilham de nossas opiniões que eles estão "errados". Democracia pressupõe liberdade do indivíduo de agir de acordo com suas crenças e deve garantir a estes a liberdade de viver de acordo com elas. Ah e vale lembrar que vivemos num estado laico... por enquanto!



domingo, 21 de fevereiro de 2010

A ANTITESE - Paradigmas em CheqUe (Mate)

.Era ainda o segundo semestre do primeiro ano de faculdade, ainda nutríamos a ilusão de seríamos algo mais que meros reprodutores de mensagem guiados por editores e donos de jornais comprometidos com interesses alheios. Neste período cursávamos a disciplina de antropologia cultural, as disciplinas de basa do curso, como esta, reforçavam em mim o gosto pela comunicação como ciência social, já de início eu começava a perder o gosto pelo jornalismo. Foi para esta disciplina que foi pedido uma atividade extra-classe que me encheu os olhos... deveríamos fazer um “etnografia”, baseada na observação de um grupo, de uma “tribo” ou de como as pessoas se comportam em determinada situação.

Minha primeira idéia foi de acompanhar um velório de um desconhecido (por nós) na capela municipal... Já era um pouco tarde quando percebemos (o trabalho seria realizado em dupla) que a disponibilidade de tempo e a imprevisibilidade do evento relacionado oa tema impediria o intento. Uma outra colega, com intuitos evangelísticos, nos convidou para um evento em sua igreja, nesta ocasião eu já estava sensibilizado por muita coisa que dizia respeito à essência da fé cristã... juntamos o útil ao agradável... No dia do evento partimos para a cidade vizinha onde tudo aconteceria. Vale ressaltar que o trabalho seria um fiasco. Eu não consegui manter o distanciamento necessário, tudo aquilo já tinha me cativado, o outro colega já trazia alguns conceitos pré-estabelecidos que também dificultariam a observação...

Definitivamente não conseguiríamos fazer um trabalho de qualidade como esperávamos, mas para os padrões da faculdade o que entregamos mereceu 23 pontos em 25. O ano letiva na faculdade acabou, mas minha relação com a igreja só estava começando. A partir daí muita coisa em minha vida também mudaria, o contato com novas pessoas e com uma nova visão, tanto no meio acadêmico quanto na igreja me libertariam de antigos pré-conceitos e abririam meus olhos para muitas possibilidades, que até então eu não havia contemplado. Depois disso o movimento punk, que embalara meus últimos anos, foi ficando pequeno demais. Eu queria me expandir, ir além... fiz concursos e acabei me tornando bancário...

O tempo passou, o curso superior de jornalismo foi concluído com um “q” de arrependimento. Definitivamente eu não me identificaria com uma rotina de redação de jornal de interior, tão pouco com a de um dos “jornalões”. Meu interesse começou já no final do curso a se voltar para a comunicação empresarial. Este acabou sendo o tema de meu trabalho de conclusão de curso que também ficou bem aquém do que eu pretendia, principalmente pela desmotivação que se abateu sobre mim e pela péssima orientação que recebi (ou que deixei de receber) durante o processo de conclusão.
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Foi neste contexto que envolvia o tumultuado último semestre da faculdade e uma fase de intensa ansiedade, que decidi eliminar pela raiz alguns de meus fatores de estresse. É este o momento em que coloco em prática a teoria etnográfica que deveria ter usado lá no já longinquo ano de 2006, como citei no princípio deste texto. Desta vez não cometeria o mesmo erro, eu precisaria ter distanciamento, para não comprometer minha observação. Sabia que não seria fácil pois a situação a ser analisada era minha própria vida com toda sua complicação. Começava ai mais um processo dialético, eu criei minha própria antítese.
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O primeiro tópico a ser analisado/questionado, seria, talvez por ironia do destino, minha relação com a igreja, tive que tomar coragem para isso, pois ao mesmo tempo que me parecia necessário, também me parecia uma questão de fé, era como se eu tivesse colocando minha relação com Deus em cheque, isso me assustava, neste período eu me distanciei da igreja como instituição, me tornei menos frequente nos cultos por quase 2 meses. O afastamento possibilitaria repensar as experiências vividas em quase 3 anos. Assim pude perceber que em grande parte a minha angústia vinha de tentar ser o mais parecido com um determinado modelo e de tentar sem sucesso me enquadrar em um padrão de vida com o qual eu pouco me identificava.

Percebi que eu tentava fazer coisas pra agradar a Deus, quando isso, todo cristão, deveria saber é algo totalmente impossível, pela nossa total imperfeição, na condição de meros humanos. Não pretendo entrar neste texto em questões teológicas, talvez em um próximo, mas biblicamente o que nos torna aceitáveis diante de Deus é o sacrifício feito por Jesus na cruz e não nossos próprios atos. Isso parece fácil de assimilar, mas não o é, pois sempre queremos sentir que estamos no controlo, quando quem realmente deveria estar é Deus. A minha observação da vida na igreja como instituição me levou a algumas conclusões, que listarei a seguir.

Percebi que o medo de não agradar a Deus tem levado muita gente a negar seus próprios sentimentos e a não se abrir com pessoas ao seu redor, na maioria das vezes por medo que o outro conclua que o sofrimento descrito seja indício de uma vida em pecado ou em desconformidade com as normas e preceitos da instituição;

As pessoas se tornam superficiais pois não são o que realmente são, e se envolvem em um conjunto de aparências que visam provar aos demais o quanto se é espiritual. Os comprimentos na chegada e ao final de cada culto são exemplo claro disso. Salda-se não por se ter uma boa relação com a outra pessoa mas pelo pedido do pastor que geralmente diz: “abrace pelo menos x pessoas antes de sair”, todos estes ritos, acabam tornando o ambiente familiar e agradável à primeira vista, mas com o tempo tudo se torna demasiadamente robotizado, e em dado momento a necessidade de relacionamento verdadeiro fala mais alto;

A igreja, como instituição muitas vezes reproduz a ética do sistema vigente, no que diz respeito à sua estrutura e à busca pela realização material e social, o que motiva muitos de seus membros. A busca incessante por metas, objetivos materiais e santidade, seria a principal causa da quantidade e casos de pessoas se sentindo não realizadas e até com depressão e outras doenças psicológicas dentro da igreja;

A ética da vitória e do triunfalismo também têm sido equívocos das instituições religiosas, prega-se, na maioria das vezes para ganhar fiéis, a idéia de que a vida à luz do evangelho é uma vida sem problemas ou dificuldades, quando na verdade a “vida nova” oferecida pelo evangelho vai muito além de nossas mazelas e nossas vaidades. Entende-se Jesus como uma espécie de “seguro” que garante o sucesso de nossos planos pessoais, profissionais e espirituais;

A noção de certo e errado e tolerável e intolerável ira mudar de instituição para instituição. Existirão congregações onde os homens só usam calças, outras onde vícios são tolerados, aquelas que condenam televisão e outras que compram canais. Os princípios adotados por cada “igreja” são acatados tendo em vista o tipo de público que se quer atingir, segmentação. Entretanto cada uma denominação terá algo pra condenar e um inimigo palpável e visível a quem apontar, enquanto uma repudia certo grupo outras os aceita mas repudia os demais;

A pior conclusão a que cheguei é a de que tais fenômenos observados acabam distanciando as pessoas de Deus e de Seu amor Verdadeiro. E esta aproximação, na verdade, é a única coisa da qual precisamos... Só o que devemos fazer é confiar Nele, pois como diz a palavra “o mais Ele fará”. É Ele quem nos transforma, é Ele quem nos conduz e não nossa vontade... Mas às vezes é tão difícil compreender a Graça, e só por isso sofremos tanto....

Sinto que desta vez, apesar de ainda não tê-lo concluído, o trabalho me trouxe uma grande satisfação, pois sinto que ele foi permitido por Deus apenas para que eu possa reconhecer o Seu Amor infinito, incondicionalmente. Independente se estou frequente nos cultos, ou se tenho um ministério bem sucedido aos olhos das pessoas, Jesus será sempre o mesmo e Seu amor por mim, terá a mesma intensidade. Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas... Estou saindo do controle...
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FRUSTRAÇÕES


De repente percebe-se que todo o caminho andado, as noites de sono perdidas em onirismos e devaneios a lugar nenhum levaram. De volta ao ponto de partida sem nada a mais, a não ser a dor da experiência. E ainda subtraída a habilidade de acreditar em novas investidas... Bom seria se pudesse ao menos transformar frustrações e dor em arte, em poesia, mas tudo é tão sombrio tão sem sentido... Em meio a um turbilhão de mensagens, de códigos, de pessoas vãs indo e vindo, ouve se um pedido pra parar, um pedido não atendido, que talvez pudesse levar pra longe a amargura das horas vazias, que tiraria da alma todo e qualquer querer, qualquer vontade que de tão utópica a fizesse sofrer... mas no final das contas são só sentimentos