Bling Ring: A Gangue de Hollywood (The Bling Ring) - 2013. Escrito e dirigido por Sofia Coppola, baseado no artigo The Suspect Wore Louboutins de Nancy Jo Sales, publicado na revista Vanity Fair. Direção de Fotografia de Christopher Blauvelt e Harris Savides. Música Original de Daniel Lopatin e Brian Reitzell. Produzido por Sofia Coppola, Roman Coppola e Youree Henley. American Zoetrope e NALA Films / UK | USA | França | Alemanha | Japão.
Bling Ring: A Gangue de Hollywood (2013), o novo filme da Sofia Coppola, pode causar inicialmente a impressão de que a temática que marcou seus antecessores fora finalmente deixada de lado, ledo engano, o que vemos nele é apenas mais uma explanação em torno de um tema que esteve nitidamente presente em todos os outros trabalhos da cineasta: o vazio existencial. A trama, que é baseada em fatos reais, gira em torno de um grupo de adolescentes que invadem casas de celebridades em Hollywood para roubar jóias, roupas e acessórios. Eles não o fazem tão somente pelo dinheiro que podem conseguir, prova disso é que em determinada passagem eles vendem parte do que tinham roubado por uma quantia que chega a ser irrisória se comparada ao real valor dos objetos, na verdade, o que os motiva é a experiência fugaz e efêmera de provarem do cobiçado estilo de vida dos famosos. Em uma busca imediatista pela sensação, o grupo se lança em uma inconsequente aventura, que inclui as invasões das mansões e outros delitos, além do consumo desenfreado de drogas.
Marc (Israel Broussard), o personagem central, se matriculou em um novo colégio depois de passar algum tempo em um modelo de educação domiciliar, ele, que possui baixa auto-estima, teme não conseguir se relacionar com os novos colegas, mas o medo de ser excluído praticamente desaparece depois que ele conhece a problemática Rebecca (Katie Chang). A garota o apresenta para o restante de sua turma, da qual também fazem parte as belas e igualmente problemáticas Nicki (Emma Watson), Chloe (Claire Julien) e Sam (Taissa Farmiga). A sequência de aventuras do grupo começa quando Marc e Rebecca decidem invadir a casa de Paris Hilton, enquanto esta estava, segundo um site de fofocas, dando uma festa em Las Vegas. A ideia parece à princípio um tanto surreal, no entanto eles conseguem aquilo que queriam: entrar na mansão da atriz e roubar joias, roupas e objetos pessoais. O 'sucesso' desta primeira empreitada motiva o restante do grupo, que passa a participar das invasões que sucedem esta primeira.
Em Bling Ring, Sofia Coppola se abstém de fazer julgamentos morais, a realidade diegética é retratada com um determinado distanciamento, que não chega a tornar a narrativa impessoal. Na maior parte do tempo a trama adquire uma perspectiva relativamente próxima da dos jovens que a protagonizam, principalmente da de Marc, e a adoção de tal perspectiva não se dá por acaso. O roteiro do longa foi baseado em um artigo escrito pela Nancy Jo Sales, colunista da revista Vanity Fair, que teve como principal fonte de informações os relatos daqueles que integraram a gangue, sendo assim é natural que a história sofra a influência do ponto de vista destes jovens que a viveram e a narraram... O filme não chega a exaltar o estilo de vida autodestrutivo e superficial que retrata e é possível perceber nas entrelinhas não uma crítica a este estilo de vida, mas uma constatação de que ele é um fruto do mesmo vazio existencial que acometeu os protagonistas dos outros filmes da cineasta.
Marc é o único personagem a ganhar um tratamento mais elaborado e consistente, é através de sua construção que Sofia trabalha na trama a questão do vazio. Em uma entrevista dada à articulista da Vanity Fair, retratada em uma das primeiras cenas do filme, ele deixa transparecer uma de suas motivações: ele se sente deslocado por não se achar tão bonito quanto os outros garotos, esta confissão deixa evidente a sua busca por autoafirmação, que é o que o leva a cometer a série de crimes. No decorrer da trama testemunhamos sua fixação em relação à sua própria imagem, é tal fixação que o leva a atualizar suas redes sociais com fotos em que ele e as garotas aparecem usando os objeto que foram roubados das celebridades. Ciente da falta de significados de sua vida, Marc encontra nas invasões das residências dos famosos e no consumo de drogas pesadas alguma espécie de realização, como se o risco que ele compartilha com as garotas lhe fizesse se sentir de fato vivo e lhe desse finalmente a sensação de fazer parte de alguma coisa, com a qual ele acredita se identificar.
No entanto, Marc volta a se deparar com a realidade depois que uma das garotas o trai, neste momento é como se todas as experiências que compartilharam perdessem o significado. Ele é então posto novamente em contato com o vazio, que conforme a entrevista mostrada no início do filme deixava claro, já não lhe era algo de todo estranho. Porém, neste estágio do filme (o último ato), o vazio já não precisa ser verbalizado como no início, demonstrando a sutileza que lhe é característica, Sofia o deixa expresso apenas no rosto do personagem, que de repente perde a expressão de fascínio, que esteve estampada nele durante quase todo o desenvolvimento da história. É como se o filme todo caminhasse para estas duas passagens, que se insurgem como um interessante contraponto para o tipo de sequência (com linguagem tipicamente publicitária) predominante nele até então.
Como eu disse, não há julgamento moral em Bling Ring, o peso da constatação de que o prazer efêmero não pode aplacar a sensação de vazio por si só já deixa evidente a posição da cineasta em relação à realidade retratada em seu filme. Quem atentar para o que está nas entrelinhas perceberá outros elementos que ajudam a tornar a obra um retrato plausível da época em que vivemos, nela estão a falência das instituições tradicionais (uma personagem educa as filhas baseada em uma religião inspirada pelo livro de autoajudo O Segredo) e crise de referenciais (Paris Hilton e Lindsay Lohan se tornam modelos a serem seguidos, enquanto um comportamento contido, como o da atriz Angelina Jolie, é tripudiado pelas garotas). A presença de todos estes elementos dão consistência ao filme e o tornam muito mais do que uma divertida história sobre um grupo de delinquentes.
Marc (Israel Broussard), o personagem central, se matriculou em um novo colégio depois de passar algum tempo em um modelo de educação domiciliar, ele, que possui baixa auto-estima, teme não conseguir se relacionar com os novos colegas, mas o medo de ser excluído praticamente desaparece depois que ele conhece a problemática Rebecca (Katie Chang). A garota o apresenta para o restante de sua turma, da qual também fazem parte as belas e igualmente problemáticas Nicki (Emma Watson), Chloe (Claire Julien) e Sam (Taissa Farmiga). A sequência de aventuras do grupo começa quando Marc e Rebecca decidem invadir a casa de Paris Hilton, enquanto esta estava, segundo um site de fofocas, dando uma festa em Las Vegas. A ideia parece à princípio um tanto surreal, no entanto eles conseguem aquilo que queriam: entrar na mansão da atriz e roubar joias, roupas e objetos pessoais. O 'sucesso' desta primeira empreitada motiva o restante do grupo, que passa a participar das invasões que sucedem esta primeira.
Em Bling Ring, Sofia Coppola se abstém de fazer julgamentos morais, a realidade diegética é retratada com um determinado distanciamento, que não chega a tornar a narrativa impessoal. Na maior parte do tempo a trama adquire uma perspectiva relativamente próxima da dos jovens que a protagonizam, principalmente da de Marc, e a adoção de tal perspectiva não se dá por acaso. O roteiro do longa foi baseado em um artigo escrito pela Nancy Jo Sales, colunista da revista Vanity Fair, que teve como principal fonte de informações os relatos daqueles que integraram a gangue, sendo assim é natural que a história sofra a influência do ponto de vista destes jovens que a viveram e a narraram... O filme não chega a exaltar o estilo de vida autodestrutivo e superficial que retrata e é possível perceber nas entrelinhas não uma crítica a este estilo de vida, mas uma constatação de que ele é um fruto do mesmo vazio existencial que acometeu os protagonistas dos outros filmes da cineasta.
Marc é o único personagem a ganhar um tratamento mais elaborado e consistente, é através de sua construção que Sofia trabalha na trama a questão do vazio. Em uma entrevista dada à articulista da Vanity Fair, retratada em uma das primeiras cenas do filme, ele deixa transparecer uma de suas motivações: ele se sente deslocado por não se achar tão bonito quanto os outros garotos, esta confissão deixa evidente a sua busca por autoafirmação, que é o que o leva a cometer a série de crimes. No decorrer da trama testemunhamos sua fixação em relação à sua própria imagem, é tal fixação que o leva a atualizar suas redes sociais com fotos em que ele e as garotas aparecem usando os objeto que foram roubados das celebridades. Ciente da falta de significados de sua vida, Marc encontra nas invasões das residências dos famosos e no consumo de drogas pesadas alguma espécie de realização, como se o risco que ele compartilha com as garotas lhe fizesse se sentir de fato vivo e lhe desse finalmente a sensação de fazer parte de alguma coisa, com a qual ele acredita se identificar.
Como eu disse, não há julgamento moral em Bling Ring, o peso da constatação de que o prazer efêmero não pode aplacar a sensação de vazio por si só já deixa evidente a posição da cineasta em relação à realidade retratada em seu filme. Quem atentar para o que está nas entrelinhas perceberá outros elementos que ajudam a tornar a obra um retrato plausível da época em que vivemos, nela estão a falência das instituições tradicionais (uma personagem educa as filhas baseada em uma religião inspirada pelo livro de autoajudo O Segredo) e crise de referenciais (Paris Hilton e Lindsay Lohan se tornam modelos a serem seguidos, enquanto um comportamento contido, como o da atriz Angelina Jolie, é tripudiado pelas garotas). A presença de todos estes elementos dão consistência ao filme e o tornam muito mais do que uma divertida história sobre um grupo de delinquentes.
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.
Perfeito seu texto, realmente é um filme sobre personagens sem conteúdo algum, retratando uma geração de "pobres" meninos e meninas ricas.
ResponderExcluirAbraço
Engraçado...ontem estive com uma cópia do filme em minhas mãos e a sinopse não me apaixonou.......com seu texto sobre essa visão da geração fiquei arrependido de não ter pego. abs
ResponderExcluirAo contrário do que muitos disseram contra o filme, não se trata de uma propaganda e exaltação desse Paris Hilton way of life, é justamente o contrário.
ResponderExcluirOlá Brunão, meu amigo!
ResponderExcluirTenho até uma pitada de inveja, pela forma que vc consegue fazer essas resenhas tão maravilhosas!
Vc é o resenheiro maior da blogosfera, e sabe muito bem dar suas opiniões sem se comprometer!
Parabens por mais esse texto impecável!
Bruninho, meu querido! E aí? A greve findou-se??? Aiaiai... tô na luta ainda! Tá fácil não.
ResponderExcluirÓ, eu confesso que ao saber desse filme fiquei sem nenhum interesse em ver...mas, acho que sempre vale a pena tentar e tirar as próprias conclusões! Vai pra lista...
bjks
JoicySorciere => CLIQUE => Blog Umas e outras...
Olá, José Bruno.
ResponderExcluirAinda não assisti a a nenhum filme de Sofia Coppola, e acho que este me parece ser um bom filme que retrata os absurdos que os jovens de hoje fazem pela fama ou aceitação de seus semelhantes.
Abraço, José Bruno.
Crítica muito bem escrita, gostei imenso deste filme.
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