Alien - A Ressurreição (Alien: Resurrection) - 1997. Dirigido por Jean-Pierre Jeunet. Escrito por Joss Whedon. Direção de Fotografia de Darius Khondji. Música Original de John Frizzell. Produzido por Bill Badalato, Gordon Carroll, David Giler e Walter Hill. Brandywine Productions e Twentieth Century Fox Film Corporation / USA.
A franquia de Alien, talvez tenha sido uma das que mais gerou filmes distintos dentre si na história da sétima arte. Para bem ou para mal, cada um dos diretores que estiveram à frente da nau a conduziram para um caminho diferente. Ridley Scott forjou um verdadeiro clássico do suspense e da ficção científica; James Cameron rodou um filme de ação raso, porém tecnicamente fantástico; David Fincher ensaiou suas futuras incursões pelo underground em um filme cheio de irregularidades; já Jean-Pierre Jeunet tentou renovar a franquia conferindo à ela abordagens inusitadas (que comentarei mais adiante), no entanto o resultado final foi um filme tão, ou mais, irregular que seu antecessor. Pouca coisa em Alien - A Ressurreição funciona bem, a sensação que experimentamos durante a maior parte do filme não tem nada a ver com suspense, é tão somente estranhamento e nojo.
A impressão, quase óbvia, que temos ao início do filme é a de que ele não passa de mais um caça-níquel, uma prolongação de uma saga que deveria ter sido no máximo uma trilogia, isto fica evidente na forma com que seu roteiro trás de volta uma personagem que pela lógica não deveria estar nesta história (a 'ressurreição' presente no título se refere a este 'absurdo' dramático). A trama do filme é construída a partir de situações surreais, que o aproximam do grotesco e do terror gore, fazendo com que ele seja o mais nojento dentre os quatro da franquia (eu particularmente prefiro não considerar os spin-offs parte dela).
A trama de Alien - A Ressurreição se desenvolve 200 anos após os acontecimentos mostrados no filme anterior, a tenente Ellen Ripley (Sigourney Weaver) é trazida de volta à vida através da clonagem e junto com ela volta também a criatura extra-terrestre - na verdade este tinha sido o propósito da experiência, recriar o monstro em laboratório. Quando morreu, Ripley trazia dentro de si um embrião da rainha Alien, que, de acordo com o explicado no filme, se fundira com seu organismo, possibilitando assim que ambos, parasita e hospedeiro, pudessem ser ressuscitados em um mesmo procedimento. A clonagem preserva as memórias da tenente, no entanto agora ela tem o DNA do alienígena fundido ao seu, o que a torna mais forte e seus sentidos mais aguçados. A rainha alien também adquire características humanas, dentre elas, a capacidade de gerar seus filhotes em seu ventre e não mais em ovos.
A transformação genética tira de Ripley um pouco de sua humanidade, seu comportamento se torna por vezes instintivo e animalesco. O conflito interno que ela experimenta, quando seu lado mais brutal se aflora, constitui um dos melhores aspectos do filme e é sem dúvidas o que torna a personagem interessante, mesmo depois de já ter sido explorada à exaustão nos filmes anteriores. Um dos pontos mais curiosos do filme é a relação que surge entre a tenente e uma das tripulantes da nave, a bela Annalee Call (Winona Ryder), elas possuem algo em comum e isto faz com que surja entre elas um forte sentimento de cumplicidade e de empatia e em alguns momentos o roteiro sugere até mesmo a existência de uma relação homo-afetiva entre elas, ainda que esta seja totalmente improvável dado o contexto no qual elas estão inseridas.
O filme explora algumas metáforas e simbolismos interessantes, principalmente na forma com que ele aborda a questão da maternidade (temática que já tinha sido explorada no filme de Cameron). Na trama, enquanto a criatura busca instintivamente a preservação de sua espécie através da procriação, a tenente Ripley, que enxerga os monstros gerados em laboratório como seus filhos, demonstra um sentimento similar ao amor materno, que não estaria ligado tão somente à uma questão de perpetuação da espécie, mas a algo maior, algo capaz de torna-la humana, independente da carga genética que ela traz consigo... No entanto, o formato da história em si não traz muita novidade, já sabemos de antemão que os monstros trazidos de volta à vida irão atacar a nave e sua tripulação, que é composta por militares e cientistas, e que poucos sobreviverão a este ataque.
A veterana Sigourney Weaver está relativamente bem no filme, seu desempenho é mediano se comparado aos seus melhores momentos na franquia, no entanto ela ainda consegue ser convincente no papel. Do elenco secundário também poderiam ter saído atuações marcantes, uma vez que ele traz nomes de peso como Winona Ryder e Dominique Pinon, este último parceiro contumaz de Jean-Pierre Jeunet, no entanto as interpretações deles são prejudicadas pela má inserção de seus personagens na trama, eles não são satisfatoriamente explorados o que impede o filme de atingir uma profundidade dramática mais significante e mais sólida.
Dentre os aspectos técnicos tem-se também alguns destaques positivos, dentre eles a direção de arte, que reforça o viés grotesco do filme, e o bom uso da grua, que possibilita movimentos de câmera inusitados, que, apesar de colaborarem pouco com a narrativa, conferem ao filme uma composição de imagens bela e diferenciada.
Chego portanto à conclusão de que Alien - A Ressurreição merece ser visto, mas principalmente por admiradores de Jean-Pierre Jeunet (afinal o filme pode ser visto como exercício de técnica do cineasta) e por fans de filmes 'b' e trashs, que optarem por não dar atenção aos absurdos da história. Todavia, para quem ainda esperava conferir um outro filme á altura de Alien, o Oitavo Passageiro, este será sem dúvidas uma grande decepção...
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,
Confiram também aqui no Sublime Irrealidade as críticas de Alien, o Oitavo Passageiro, Aliens, o Resgate e Alien³!
Não deixem de conferir Prometheus, o prólogo que marca a volta de Ridley Scott à franquia, o filme estreará nas salas nacionais neste mês!
Brunão! Belo texto esse seu, falando de um filme mais ou menos. Realmente eu acho esses aliens, uns filmes meio bobinhos. Acho interessante a forma como vc fala sobre eles. Nçao consigo enxergar tanta coisa nesses filmes!
ResponderExcluirUm abração meu amigo!
André, o primeiro é uma obra prima cara, o segundo é legal, porém os outros dois (que inclui este) são descartáveis, assista novamente os primeiros e quem sabe você não dá uma nova chance para a franquia?
ExcluirOi Bruno,
ResponderExcluirTudo bem? Ridley Scott será sempre objeto de atenção. Esse filme na minha opinião foi o mais humano e o mais sentimental da série. Logo, gostei, pois o meu olhar foi pela esperança que repassou.
Ótima crítica! Parabéns!
Bom final de semana!
Lu
Obrigado Lu, fico feliz que você tenha gostado!
ExcluirEu o considero o mais fraco dentre os quatro filmes, mas nem por isso eu o considero um filme de todo ruim, como comentei no texto ele tem sim alguns aspectos legais, que acabam compensando a forçação de barra de outros...
Gosto da série, são quatro filmes bem diferentes entre si e todos de qualidade. O original de Ridly Scott é o melhor e a sequência de James Cameron a mais sensacional em termos de ação.
ResponderExcluirEste filme comentado vale pelas boas cenas de ação, a trama que é interessante e a qualidade técnica dos trabalhos de Jeunet, que desta vez não teve a companhia de Marc Caro, com quem comandou em parceria os interessantes "Delicatessen" e "Ladrão de Sonhos.
Abraço
Olá Hugo, "Delicatessen" e "Ladrão de Sonhos" estão na minha lista para serem revisitados aqui no blog já há algum tempo... É engraçado, que mesmo "Alien - A Ressurreição" sendo um filme tão irregular ele traz consigo alguns aspectos que caracterizam a filmografia do diretor e isso ajuda a torná-lo um pouquinho mais interessante!
ExcluirBelo texto!
ResponderExcluirNão tive interesse em ver esse filme. O filme de Ridley Scott que estou esperando para ver é "Prometheus", que promete ser um ótimo filme.
Este é do Jean-Pierre Jeunet Mateus, o Ridley Scott dirigiu o primeiro da franquia, que é um clássico que "Prometheus", que eu ainda não vi, é praticamente incapaz de superar...
ExcluirOi Bruno, algumas séries de filmes, muitas vezes vão perdendo a riqueza do conteúdo e da atuação dos atores, acho que isso aconteceu nesse filme, eu particularmente não gostei muito e concordo com as suas observações! Abraços
ResponderExcluirÉ verdade Kellen, o problema é que quando um filme faz um relativo sucesso a indústria do cinema busca explorar este sucesso até que ele se esgote, deste fenômeno surgem várias aberrações cinematográficas que nunca deveriam ter sido rodadas...
ExcluirIchi, vou passar londe deste filme! Pra mim, o único filme bom da franquia é Alien - O Resgate, nem o oitavo passageiro eu gostei muito..
ResponderExcluirhttp://monteolimpoblog.blogspot.com.br/
Eu discordo Gabriel, tirando o aspecto técnico "Alien - O Resgate" é praticamente descartável, já "Alien, o Oitavo Passageiro" é uma obra prima do cinema!
ExcluirBruninho, tudo bem?
ResponderExcluirConcordo com quase tudo... quase, pois creio que a Sigourney Weaver ainda está muito convincente nesse filme. O assisti novamente há pouco tempo, por coincidência, e ainda acho que ela segura o filme. Mas concordo totalmente quanto ao "Alien, o oitavo passageiro", um espetáculo de luzes, sombra, roteiro, tudo. Para você ter uma ideia o assisti ainda naqueles extintos cinemas de rua que tinham uma tela gigantesca se compararmos com as de shopping, tudo passava a ter uma leitura diferente, te garanto, tinha um gosto especial assistir a tudo "maior", depois sair direto na rua, ainda encantada com o que havia assistido e parecia que um alien estaria pela ruas rsrs Era muito bom!
Abração e ótimo fim de semana!
Ainda acho uma atuação mediana a dela Cissa, como eu disse no texto ela está bem, convincente, mas não alcança o mesmo nível alcançado nos dois primeiros da franquia...
ExcluirEstou imaginando o impacto de ter assistido "O Oitavo Passageiro" no cinema, deve ter sido com certeza memorável!
Grande Bruno, como vai?
ResponderExcluirAntes de mais nada, parabéns pela nova imagem de capa do seu Blog, muito 10.
Gosto muito de Aliens, quando era mais novo confesso que assistia mais filmes de horror e suspense, hoje em dia deixei meio de lado esse gênero.
Seu texto mais uma vez, ótimo.
Grande abraço
Olá Jefferson, eu gosto muito de suspense, mas o terror não é nem de longe um dos meus gêneros favoritos (gosto muito de "O Oitavo Passageiro" porquê ele transcende o gênero), o número relativamente pequeno de filmes deste gênero aqui no Sublime Irrealidade é uma evidência disso, na verdade decide rever a franquia de Alien após ter sido convencido por uma amigo que comprou o bos com os BRs...
ExcluirFico feliz que você tenha gostado da foto de capa, acho que ela sintetiza o proposta e a ideia por trás do nome do blog...
Eu não gosto do allien. De nenhum. Já assisti mais sei lá, acho que esses bichos não me passaram carisma. haha.
ResponderExcluirDiferente do Predador, que acho muito foda. Principalmente os dois primeiros. E até o allien x predador é legalzinho tb.
Vou ver hoje o filme do Kevin. Tua resenha me ajudou pra caralho! :D
Valeuu
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Site Oficial: JimCarbonera.com
Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com
Rasuras visuais e sedentárias: The-Tramp-Mind.tumblr.com
Eu não gosto do Predador Jim...
ExcluirGosto desse filme tanto quanto da série em si, no entanto esse me chama a atenção pela sensibilidade da narrativa e do visual apurado, certamente atribuído muito a direção de Jeunet. O visual principalmente é o que eu mais gosto. Bom filme. Excelente critica.
ResponderExcluirabraços
Olá Marcelo, fico feliz que você tenha gostado da crítica cara... Reconheço os aspectos positivos que você citou, mas apesar de sensível o roteiro é fraco e apenas repete aquilo que já vimos nos outros filmes da franquia... infelizmente as irregularidades impedem o filme de ser uma obra grandiosa e felizmente a direção do Jeunet o impede de ser uma obra ainda mais desastrosa...
ExcluirSeu texto esta ótimo Bruno, como sempre!
ResponderExcluirEu não aprecio tanto a série Alien depois do trabalho magnífico do Scott e Cameron, acho que Fincher cagou feio e o Jeunet até tentou fazer um filme interessante visualmente a partir de um script bom do Joss Whedon, mesmo assim demorou um tempo para sair e a fórmula, pelo menos pra mim, já havia sido esgotada. O suspense/terror e a ação dos dois primeiros não se repetiu nas continuações apêndices. Até mesmo a heroína Sigourney Weaver não tem muito o que fazer. A ideia do clone é esquisita e distancia com frieza da Ripley original.
Abraço.
Apesar de eu reconhecer os pontos positivos dos filmes de Fincher e do Jeunet, ainda acho que a franquia deveria ter no máximo até o segundo filme...
ExcluirAssisti apenas uma vez, acabei me deixando levar, mas, não amei, não tentei analisar... Realmente ele destoa muito do original, que é apaixonante!
ResponderExcluirExcelente texto!
;D
Concordo Karla!
ExcluirOlá, José Bruno.
ResponderExcluirVi este filme uma vez só tempos atrás na Globo, e o achei bem irregular e fraco (não sabia que o roteiro era do Joss Whedon).
Concordo que a franquia Alien talvez seja a que contém mais filmes distintos entre si, e a ideia central dela (terror no espaço) é bem atraente.
Dizem que Prometheus é um ótimo filme, sem aliens, mas uma boa ficção científica; se houverem continuações no mesmo nível, tanto melhor.
Abraço, José Bruno.
Eu estou curioso para ver "Prometheus" Jacques, principalmente depois de ter revisitado a franquia de "Alien", mas ainda estou mantendo meus pés no chão para não criar tantas expectativas, afinal seria tolice esperar de Ridley Scott um novo "O Oitavo Passageiro"...
ExcluirMeio bobo este filme: os aliens só têm um único propósito, novamente serem usados como armas de destruição em massa (ok, já sabemos disso). Mas ao menos é um bom filme de ação exclusivamente, o que é muito para se exigir atualmente.
ResponderExcluirUm detalhe: a alegoria materna havia sido usada no Alien, o Oitavo Passageiro (lembra o nome do computador central? Mother!).
a falta de novidade dramática é o principal pecado cometido pelo filme, o que há de diferente nele não tem em si peso para dar uma nova roupagem á trama, provocando tão somente o estranhamento...
ExcluirBem lembrado Márcio, de fato a alegoria está presente em toda a série e cada um dos diretores a explorou de uma forma particular...
sou fã da trilogia alien, mas sempre achei que os dois primeiros seriam imbativeis.
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