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segunda-feira, 14 de março de 2011

Inverno da Alma

Inverno da Alma (Winter`s Bone) - 2010. Dirigido por Debra Granik. Roteiro de Debra Granik & Anne Rosellini, baseado no romance de Daniel Woodrell. Fotografia de Michael McDonough. Música de Dickon Hinchliffe. Produzido por Anne Rosellini & Alix Madigan. Califórnia Filmes / EUA.


Inverno da Alva (2010) nos transporta para uma minúscula cidade localizada nas montanhas geladas, no interior do meio oeste americano, povoada por poucas famílias formadas por homens durões e mulheres submissas... este bem que poderia ser um bucólico cenário para histórias sobre o lento decorrer do tempo em um lugarejo tão afastado, geograficamente e culturalmente, da influência dos grandes centros. Mas esta é apenas nossa primeira ilusão aos nos depararmos com este filme. Os caipiras, com seus banjos a tira colo e casacos xadrez surrados, que povoam este drama de Debra Granik, nem de longe correspondem ao aparente bucolismo do cenário onde estão inseridos.

Inverno da Alma retrata a realidade atormentadora de uma dentre várias cidades isoladas do interior americano, que sobrevivem basicamente da produção e do comércio de drogas. A realidade pós-apocalíptica do lugarejo sem lei emana sofrimento e decadência, que estão impressos nos rostos abatido da maioria dos personagens. O filme se desenvolve lentamente, com longas tomadas de clouse-up ou de contemplação da natureza morta e gélida dos arredores da cidade. Mas, toda a melancolia e morbidez do cenário são apenas uma sutil metáfora, quando comparadas ao estado de espírito perturbador daquelas pessoas que buscam sobreviver em um meio tão hostil.


Como podemos perceber através da realidade da personagem principal de Inverno da Alma, a sobrevivência é uma das primeiras lições que aquele povo precisa aprender. Como se não bastasse o frio extremo e a escassez de insumos e alimentos, as drogas, que oferecem para estas pessoas oprimidas uma espécie de fuga trágica das demais adversidades, destroem vidas e levam famílias à ruína. Assustadoramente a maior parte da população é composta de dependentes químicos e/ou pessoas que estão direta ou indiretamente envolvidas na produção e no comércio dos entorpecentes.

Ree Dolly (Jennifer Lawrence), de apenas 17 anos, está inserida neste dura realidade, ela cuida sozinha da mãe, que sobrevive em um estado de aparente catatonia, causado pelos desgostos da vida, e dos dois irmãos mais novos. Seu pai, que esteve diretamente ligado ao tráfico, chegou a ser preso, mas saiu da cadeia em liberdade condicional, que deveria ser paga através de fiança. Porém o julgamento se aproximava e ele tinha desaparecido, já fazia alguns dias, sem pagar a fiança. Para complicar ainda mais a situação de sua família, ele oferecera a casa e a propriedade como garantia do pagamento da fiança, em alienação fiduciária.


A ameaça de perder a casa faz com que Ree parta em uma desesperada busca pelo pai. Sua busca a conduzirá a um mundo obscuro de homens violentos e mulheres que por trás da submissão escondem uma força inimaginável. Curiosamente, são sempre as mulheres que lhe abrem o caminho para chegar até aqueles que na verdade são quem controlam o pequeno lugarejo. Ela buscará a ajuda de seu tio Teardrop (John Hawkes, numa ótima atuação), que também é viciado. A princípio ele apenas a ajuda com um pouco de dinheiro e drogas, que ele acredita que ajudará a sobrinha a enfrentar a situação. A determinação da jovem irá coloca-la em sérios riscos e a fará descobrir sobre o pai coisas que irão lhe surpreender.


O sofrimento latente não nos permite vislumbrar um happy end nos moldes do cinema mainstrean, mas a perseverança da jovem em sua postura de não se “contaminar” com sua realidade e sua dedicação em tentar dar uma educação digna para os irmãos nos acende um fio de esperança, quanto à sua realidade e nos ajuda a juntar forças para enfrentar nosso próprio “inverno” cotidiano. Creio que de alguma forma a diretora Debra Granik quis também, através deste longa, exaltar a força feminina e mostrar que a submissão é nada mais que um outra ilusão e que a perseverança é a melhor estratégia para atravessar as geleiras mais intransponíveis.


Inverno da Alma é também uma prova da qualidade indiscutível de algumas das subjulgadas produções do cinema indie americano, sendo desta forma um alerta para que comecemos (ou continuemos) a direcionar nosso olhar para além da magia de Hollywood. Preste atenção na exuberante e ao mesmo tempo tempo mórbida fotografia e na trilha sonora composta por folks e música countrys, que dão um o arremate a este filme de ótimas atuações e roteiro impecável. Estou certo de que relativamente pouca gente o verá, realmente não é um filme para as massas. Mas é imperdível para quem busca o que se tem produzido de melhor fora do circuíto controlado pelas grandes produtoras. Recomendo!

Inverno da Alma foi indicado aos Oscars de Melhor Filme, Atriz (Jennifer Lawrence), Ator Coadjuvante (John Hawkes) e Roteiro Adaptado. Recebeu também uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático (Jennifer Lawrence).


Assista ao trailer de Inverno da Alma no You Tube ! (clique no link)


Confiram aqui no Blog SUBLIME IRREALIDADE a resenha de outros longas que concorreram ao Oscar de Melhor Filme 2011:

O Discurso do Rei (The King`s Speech) - Vencedor
A Rede Social (The Social Network) - Indicado
Minhas Mães e Meu Pai (The Kids are All Right) - Indicado
Cisne Negro (Black Swan) - Indicado
O Vencedor (The Fighter) - Indicado
A Origem (Inception) - Indicado
127 Horas (127 Hour`s) - Indicado
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Um comentário:

  1. Bruninho,

    Sou muito fã da morbidez deste filme.
    Chorei horrores quando vi e ao mesmo tempo me apaixonei.
    Já, está em minha lista de compra da minha futura DVDteca.
    Altamente RECOMENDADO.
    bjs

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